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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Sandra Myles

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Seria sua esposa, n.º 889 - Abril 2016

Título original: The One-Night Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8332-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Entrou no casino pouco antes da meia-noite, quando o jogo estava em ebulição. Savannah estivera à sua espera sem tirar os olhos da entrada do hall de mármore branco para a sala de apostas altas. Temera não se aperceber de que entrava, mas naquele momento compreendeu que era impossível não o fazer. Sean O’Connell era imponente.

Quando perguntara a Alain como o reconheceria, ele explicara-lhe que O’Connell era alto, moreno e atraente, com uma aura de dinheiro e sofisticação.

No entanto, ao chegar ao casino há uma hora e atravessar as portas gigantescas, ficara desanimada, uma vez que metade dos homens da sala correspondia a tal descrição.

O casino ficava numa ilha de areia cor-de-rosa e complexos residenciais nas Bahamas e só podiam ser sócios os jogadores mais ricos da Europa, Ásia e América. Todos os homens que frequentavam as mesas eram ricos, elegantes e, muitos deles, bonitos.

Savannah levou a taça de champanhe aos lábios e bebeu, enquanto pensava que «bonito» nem sequer se aproximava da descrição de Sean O’Connell. Perguntou-se quantos homens poderiam fazer aumentar a temperatura duma mulher estando quietos, como aquele.

A chegada de O’Connell causara sensação.

Os homens olhavam disfarçadamente para ele e as mulheres avaliavam-no. Talvez outra pessoa não tivesse captado aqueles sinais tão subtis, mas os matizes eram o negócio de Savannah, pois era disso que dependia o seu êxito nos jogos de mesa.

Naquela noite, também era disso que dependia o curso da sua vida.

Não queria pensar naquilo. Há alguns anos, na sua época de depenar turistas em Nova Orleães, aprendera que a única forma de ganhar era não pensar noutra coisa senão nas cartas, esvaziar a mente de tudo, excepto do seu penhorista, do incauto e da velocidade das suas mãos. Concentrar-se na convicção de que era a melhor.

Aquela forma de pensar ainda funcionava. Deixara de ser uma jogadora de rua para jogar bacará e póquer em lugares muito elegantes, mas o seu objectivo de ganhar não mudara. Sabia que o segredo era concentrar-se e manter a calma. Naquela noite, no entanto, estava a ter dificuldade em se serenar.

A sua mão tremeu ao levar a taça à boca. Era um movimento quase imperceptível, mas demasiado eloquente para ela. Embora não bebesse quando se sentava à mesa de póquer, sabia que O’Connell se daria conta se aquele tique aparecesse ao pegar nas cartas. Decerto ele sabia ler tão bem quanto ela a linguagem corporal do seu oponente.

As habilidades de Sean O’Connell eram famosas. No caso dos homens, ele era o homem indicado para jogar. No das mulheres, o homem indicado para fazer amor.

Todas as mulheres da sala o sabiam e Savannah não pôde deixar de esboçar um sorriso ao pensar no assunto, uma vez que naquela noite quente das Caraíbas Sean O’Connell seria só seu.

Voltou a erguer a taça, daquela vez com mão firme. Bebeu um pequeno gole, suficiente para refrescar os lábios e a garganta, e continuou a olhar para ele. Não havia perigo de ele a ver, pois escolhera um lugar de onde podia observar sem ser vista. Queria ter a oportunidade de o examinar antes de fazer o seu primeiro movimento.

Era evidente que ele estava a fazer o mesmo antes de escolher uma mesa. Ainda não se mexera e continuava de pé no arco entre o hall e a sala principal. Savannah reconheceu, contrariada, que se tratava de uma entrada inteligente, dado que suscitara interesse sem fazer o que quer que fosse.

Todos aqueles olhares avaliadores de homens estupidamente ansiosos por serem a sua próxima vítima. Todos aqueles sorrisos felinos de mulheres ansiosas pelo mesmo, embora de um modo diferente.

Savannah, a Jogadora, compreendia os homens. Com um jogador com a reputação de O’Connell, era normal querer sentar-se em frente a ele para pôr à prova as suas capacidades. Mesmo perdendo, uma pessoa podia sempre mencionar numa conversa informal a ocasião em que jogara com ele. Contudo, Savannah, a Mulher, não compreendia os sorrisos femininos. Ouvira falar da reputação de O’Connell. Aparentemente, trocava de mulher como quem troca de camisa, perdendo o interesse e indo-se embora, deixando atrás de si um rol de corações partidos. Não compreendia porque quereria alguém arriscar-se àquilo. Savannah pensava que os sentimentos eram perigosos e pouco práticos, embora devesse admitir que Sean O’Connell era um «borracho».

Media pouco mais de um metro oitenta. Trazia vestido um smoking preto, uma camisa branca de seda e umas calças pretas que realçavam o seu corpo esbelto e musculado. Tal como Alain dissera, tinha o cabelo escuro. No entanto, Alain não mencionara os seus olhos azuis. Ela estava demasiado longe e, durante um segundo, imaginou o que aconteceria se fosse ter com ele para olhar para ele fixamente nos olhos.

Então, franziu o sobrolho e bebeu mais um gole de champanhe. Tinha uma tarefa para cumprir. A cor dos olhos de O’Connell não tinha a menor importância. O que contava era aquilo que sabia sobre ele e como usaria os seus conhecimentos naquela noite.

O’Connell era considerado um dos melhores jogadores do mundo. Frio, impassível e inteligente, também era um homem que não conseguia resistir a um desafio, fosse um jogo de cartas ou uma bela mulher. Por isso, ela estava ali naquela noite. Alain enviara-a para atrair O’Connell para uma armadilha.

Savannah nunca utilizara o seu corpo para induzir um homem a interessar-se mais por ela do que pelo jogo, enganá-lo tanto que se esquecesse das combinações e possibilidades do jogo que tinha para perder.

Não se tratava realmente de uma armadilha, só era uma variação da habilidade que desenvolvera na sua época de jogadora de rua: manter o incauto tão fascinado pela sua conversa e o movimento rápido das suas mãos que não se apercebesse de que retirara a rainha e jogara outro rei.

Naquela noite era diferente. Naquela noite, queria que o alvo a observasse a si e não às suas mãos nem às cartas. Se fossem boas, ganharia. Se não, deveria mostrar muito mais do que o seu decote. Faria o que tivesse de fazer.

O objectivo era ganhar, ganhar indubitavelmente, derrotar Sean O’Connell, humilhá-lo diante de toda a gente. Quando o fizesse, seria livre. Queria que ele começasse quanto antes, pois tanta espera e observação estavam a pô-la nervosa. «Faz alguma coisa», pensou. «Vá lá, O’Connell, escolhe a tua mesa e que comece o baile.»

O cobiçado jogador continuava de pé à entrada, onde um empregado lhe levou um copo. Savannah imaginou que fosse bourbon, uísque do Tennessee. Alain contara-lhe que era a única coisa que ele bebia, quando bebia. O seu «alvo» era tão americano quanto ela, embora parecesse ter nascido naquele lugar cosmopolita.

O’Connell ergueu o copo e bebeu. Parecia descontraído. Era evidente que tinha uns nervos de aço, mas ela tinha a certeza de que a sua pulsação se aceleraria à medida que fosse assimilando as imagens e sons que o rodeavam. Ninguém se aproximava dele. Alain avisara-a de que as pessoas lhe dariam o seu espaço.

– As pessoas sabem que não devem pressioná-lo – explicara. – Gosta de parecer um lobo solitário.

Savannah não achava aquela comparação apropriada, pois O’Connell parecia mais uma pantera negra e perigosa. «Muito perigosa», pensou, enquanto um arrepio lhe percorria o corpo. Ela nunca seduzira uma pantera e só de pensar nisso estremecia. Até Alain a avisara de que seria perigoso.

– Tu podes fazê-lo, chérie – dissera ele. – Alguma vez te enganei?

A verdade era que não. Alain nunca a enganara, embora a sua atitude para com ela tivesse mudado nos últimos tempos. Com efeito, ele olhava para ela de forma diferente e também lhe tocava de forma diferente. No entanto, Savannah não queria pensar nisso, pois tinha uma missão para cumprir. Ia jogar póquer com Sean O’Connell e fazer do jogo uma dança de sedução em vez de um jogo de sorte e talento. Ia fazer com que ele perdesse até ao último dólar e ia fazê-lo em público, para a sua humilhação ser completa.

– Quero que Sean O’Connell perca como nunca imaginou – dissera Alain num sussurro que a fizera estremecer até aos ossos. – Quero que perca tudo, não só o dinheiro, mas também a respeitabilidade, o orgulho, a arrogância. Tens de o deixar só com a roupa do corpo – sorrira, fazendo com que ela sentisse um aperto na garganta. – Como recompensa, querida, poderás ficar com aquilo que ganhares. Achas bem?

Savannah só pensava que, quando tivesse todo aquele dinheiro, seria livre. Até há pouco tempo, não quisera ficar obcecada com aquela ideia, mas agora era a única coisa em que pensava. Ia deixar que Alain pensasse que fazia aquilo por ele, mas fazia-o por ela. Por ela e por Missy. Ao fim da noite, teria dinheiro suficiente para fugir e cuidar da sua irmã. Estariam a salvo de Alain, daquilo que descobrira que ele era, daquilo que receava que quisesse dela. Se para isso tivesse de provocar a queda e a destruição de Sean O’Connell, paciência. Afinal, não era mais do que um desconhecido.

Também era um ladrão. Roubara a Alain um milhão de dólares numa partida de póquer de três dias no iate de Alain no Mediterrâneo, há um ano. Ela não estivera presente, uma vez que aquilo acontecera no início do mês, quando ela fora visitar a sua irmã à clínica de Genebra. Contudo, Alain contara-lhe todos os pormenores. Segundo ele, a partida começara como qualquer outra e só se apercebera de que O’Connell fizera batota quando já tinham atracado em Cannes e O’Connell fora-se embora. Alain passara um ano a planear a sua vingança.

O problema não era o dinheiro, dado que um milhão de dólares «não aquece nem arrefece» quando se nascera em berço de ouro. Segundo Alain, era uma questão de princípios.

Savannah compreendia-o. Só existiam três tipos de jogadores: os espertos, os parvos e os vigaristas. Os espertos tornavam o jogo emocionante, pois dava gozo derrotar alguém tão habilidoso. Os parvos podiam ser divertidos no início, mas passado algum tempo deixava de ser emocionante tirar-lhes o dinheiro. Os vigaristas eram diferentes; eram lixo que gozavam com o talento. Se alguém fosse apanhado a fazer batota, o mínimo que podia acontecer era ser proibido de entrar nos casinos… ou acabar com as mãos partidas se o fizesse com as pessoas erradas. Fosse como fosse, ninguém apelava à lei.

Alain queria algo diferente. O’Connell ferira-o em privado. Ele ia devolver-lhe o favor, mas tão publicamente quanto pudesse. Traçara um plano, embora não a tivesse informado senão na última semana, quando regressara da visita à sua irmã.

Alain pusera um braço sobre os seus ombros e contara-lhe o que acontecera um ano antes e o que esperava dela. Quando ela se recusara a fazê-lo, esboçara um sorriso que ela só conhecia há dois ou três meses, um sorriso que lhe punha os nervos em franja.

– Como está Missy? – perguntara ele em voz baixa. – Está mesmo feliz naquele lugar, chérie? Está melhor? Se calhar são horas de pensares em fazer algumas mudanças.

Savannah perguntara-se o que queria ele dizer. À primeira vista, parecia algo bom, mas o tom da sua voz e o seu sorriso transmitiam uma mensagem diferente. Ela olhara para ele, pensando na sua resposta. Então, ele rira-se e beijara-a na testa.

– Vai ser divertido, chérie. A festa do teu vigésimo primeiro aniversário.

O que ele queria dizer era que devia apanhar O’Connell de surpresa. Teria de jogar num casino, embora até ali Alain só a tivesse deixado participar em jogos privados.

Savannah conhecera-o aos dezasseis anos, nas ruas de Nova Orleães, onde Missy e ela sobreviviam a enganar os turistas com jogos de mesa. Ela era boa jogadora, mas ganhava pouco. Além disso, só podia jogar até a polícia chegar. Alain aparecera uma noite entre a multidão e observara-a a enganar uns incautos que tinham deixado o cérebro no hotel ao lado das malas. Num intervalo, aproximara-se dela.

– És boa, chérie – declarara com um sorriso.

Parecia francês, embora tivesse sotaque de Nova Orleães. Ela olhara para ele nos olhos e respondera com a confiança adquirida nas ruas:

– A melhor.

Alain pegara nas cartas.

– Eh, não toque nessas cartas! São minhas!

Ele não fizera caso dela, observara as cartas e olhara para ela.

– Onde está a rainha?

Savannah erguera os olhos para o céu e apontara. Alain sorrira e mudara as cartas de lugar a toda a velocidade.

– E agora, chérie?

Savannah olhara para ele com desprezo e voltara a apontar, mas, quando Alain virara a carta, não se tratava da rainha.

– Olha outra vez – dissera Alain.

Ela voltara a olhar. Passados cinco minutos, abanara a cabeça, espantada.

– Como faz isso?

Ele deixara as cartas e apontara com a cabeça para a limusina preta que acabava de aparecer na rua.

– Vem comigo que eu mostro-te. És boa, chérie, mas eu posso ensinar-te a usar a mente tão bem como as mãos. Juntos podemos fazer uma fortuna.

– Parece que já tem uma fortuna, senhor.

– Tenho – ele rira-se, – mas nunca é demasiado. Além disso, intrigas-me. És suja e cheiras mal.

– Ouça!

– É verdade, chérie. Pareces uma vagabunda e falas como tal, mas tens un je ne sais quoi que me intriga. És um desafio. Serás a Elisa do meu professor Higgins.

– Eu não conheço nenhuma Elisa nem nenhum professor Higgins – replicara ela.

– A única coisa que tens de saber é que eu posso mudar a tua vida.

Savannah perguntara-se se ele a tomaria por parva. Tendo passado quatro anos em orfanatos e um na rua, sabia muito bem que não devia meter-se no carro de um estranho… Contudo, também sabia que não devia desperdiçar uma boa oportunidade.

Olhara para a limusina, para o homem e para o fato, que decerto custara mais do que ela poderia ganhar em cinco anos de jogo. Então, olhara para Missy, que estava sentada na calçada, cantarolando uma canção que só ela ouvia.

Alain também olhara para Missy, como se acabasse de a ver.

– Quem é?

– É a minha irmã – respondera Savannah com a cabeça erguida, desafiante.

– O que tem ela?

– É autista.

– O que significa isso?

– Significa que não fala.

– Porque não pode ou porque não quer?

– Não sei – murmurara ela, pensando que se tratava de uma distinção que nenhum assistente social fizera até àquela data. – Simplesmente não o faz.

– Há médicos que podem ajudá-la. Eu posso ajudá-la. Depende de ti.

Savannah olhara para ele fixamente e recordara a faca que tinha escondida debaixo do braço.

– Tenta alguma coisa – avisara-o, aterrorizada, – e arrependes-te.

Alain assentira e estendera-lhe a mão, que ela ignorara.

Savannah pedira a Missy para se levantar. Aquele fora o início de uma vida nova, com banhos quentes, roupa limpa, comida nutritiva, um quarto para Savannah e um colégio interno fantástico para a sua irmã.

Alain cumprira a sua palavra. Ensinara-lhe tudo quanto sabia até ela saber ganhar com qualquer combinação de cartas em qualquer partida de póquer, roleta ou chemin de fer.

Também não lhe tocara… até recentemente. Até ter começado a olhar com luxúria para o seu corpo, até ter começado a dar-lhe dar beijos húmidos nas palmas das mãos e, pior ainda, a chamá-la ao seu quarto no castelo ou ao seu camarote no iate sempre que havia visitas, exibindo-a perante homens que olhavam para ela com os mesmos olhos ávidos que ele e que lhe acariciavam as maçãs do rosto e os ombros.

Por isso, Savannah aceitara «limpar» Sean O’Connell. Era o melhor acordo possível. Alain teria aquilo que queria e ela também. No fim daquela noite, teria dinheiro suficiente para abandonar Alain e cuidar de Missy sem a sua ajuda. Para fugir, se fosse necessário, embora preferisse acreditar que ele a deixaria ir-se embora.

Savannah levou a taça aos lábios, mas estava vazia. «Tanto melhor», pensou, pois não costumava beber quando jogava. No entanto, naquela noite pedira champanhe, sentindo que ia precisar da adrenalina provocada por ele.

Pousou a taça vazia numa mesa e alisou a saia curtíssima do vestido vermelho que Alain escolhera. Não era o seu estilo, mas a vida que levava também não o era.

Respirou fundo e esvaziou a mente de todos os pensamentos que não dissessem respeito ao jogo. Sacudiu o seu cabelo loiro comprido e saiu da sombra.

«Estejas preparado ou não, Sean O’Connell, aqui vou eu.»