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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Sandra Myles

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Casamento siciliano, n.º 915 - Julho 2016

Título original: The Sicilian Marriage

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8610-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Gianni Firelli estava inquieto. Eram seis horas de uma quente tarde de Maio e estava há muito tempo preso na celebração do nascimento da filha de Stefano Lucchesi.

Havia demasiada gente na sala e todos falavam demasiado alto. Além disso, se voltassem a pôr-lhe um bebé barulhento debaixo do nariz, ele ia esquecer-se que se esperava que respondesse com um sorriso. Entre os bebés que estavam a caminho e os que já tinham chegado, podia fazer-se uma equipa completa de futebol.

Aparentemente, Stefano tinha formado uma família bastante fértil.

Como se aquilo não fosse suficiente, há uma hora, Tomasso Massini, um dos melhores amigos de Gianni, apresentou-lhe a sua mulher, a sua mulher grávida.

Gianni apertara-lhe a mão, beijara a sua mulher e dissera o que se dizia nesses casos, ainda que se perguntasse como era possível que Tommy também tivesse chegado a essa situação.

A loira de pernas intermináveis era a única coisa interessante que tinha visto, contudo acabou por ser tão arisca como digna de atenção.

Gianni suspirou e olhou dissimuladamente para o relógio.

Mais uns minutos e podia ir-se embora sem parecer grosseiro. No entanto, naquela altura, teria de sorrir, dizer o que se esperava que dissesse e tentar encontrar uma explicação para que Stefano não só renunciasse à sua liberdade de solteiro, mas também fosse pai.

Ele, Gianni, não tinha nada contra o casamento ou a paternidade. Imaginava que um dia assentaria, casar-se-ia e teria alguns filhos, porém, ainda faltava bastante para que chegasse esse dia.

Stefano e Tomasso pareciam felizes, contudo, continuava a não entender porque tinham renunciado à liberdade quando tinham trinta e tantos anos.

Era uma conspiração?

Esteve prestes a perguntar a Tomasso, porém, não se brincava com um homem que estava prestes a ser pai, embora fosse o seu amigo desde os dez anos. Tommy, Stefano e ele tinham crescido juntos nas turbulentas ruas de Little Italy, em Manhattan. Os seus caminhos não se voltaram a cruzar com muita frequência, mas podiam sempre contar uns com outros quando havia um bom motivo.

Naturalmente, os bebés eram um bom motivo. Alguém, um dos cunhados de Stefano, passou por ele com uma criança que não parava de chorar nos braços. A criança cheirava ao longe e não propriamente a talco.

– Peço desculpa – replicou o pai com um sorriso.

– Não faz mal – conseguiu dizer Gianni, antes de sair para o terraço para respirar ar puro.

Ficaria ali para desfrutar da vista de Central Park, que estava quarenta andares por baixo dele, e para pensar se lhe apetecia ver Lynda nessa noite, sem ter que fingir que estava encantado que os seus dois melhores amigos tivessem ficado loucos.

Talvez devesse ter seguido o seu instinto e não ter ido à festa. Tinha estado tentado a mandar um presente da Tiffany’s com um bilhete que explicava o quanto lamentava não poder ir e todas essas coisas. No entanto, como podia faltar à celebração do nascimento do filho de Stefano? Não tinha ido ao casamento, os aeroportos estavam fechados devido ao mau tempo...

Ali estava ele. A loira com as pernas mais longas que alguma vez tinha visto também lá estava.

Gianni franziu o sobrolho. Outra vez ela? Também não havia nada melhor em que pensar. Ela já tinha tentado dissuadi-lo, porém, como não tinha muito que fazer, os seus pensamentos tinham voltado para ela.

Uma vez teve uma dor de dentes e não conseguia parar de passar a língua pelo molar dorido, embora tentasse de todas as formas.

Aquilo era igualmente absurdo.

Gianni deu uma olhadela pela enorme sala dos Lucchesi. A loira conversava animadamente com Karen, a mulher de Tomasso, como se fossem boas amigas.

Nem sequer tinha sorrido.

Não se preocupava com isso. Não era o seu tipo. Gostava de mulheres belas, morenas e femininas. Lynda cumpria todos os requisitos. Além disso, tinha boas curvas, enquanto a loira era magricela como um rapaz. Lynda sorria quando um homem sorria para ela. A loira não. Dispensava os seus favores como se se tratassem de um bem muito estimado.

– Deseja beber alguma coisa? – perguntou-lhe um empregado que tinha ido ao terraço.

Gianni assentiu, pegou num copo de vinho tinto e levou-o aos lábios.

A loira e ele tinham chegado ao hall do edifício ao mesmo tempo. As portas do elevador estavam a fechar-se quando ele ouviu uma voz feminina.

– Um momento...

Uma delicada mão colocou-se entre as portas.

Gianni carregou no botão para as abrir e viu a loira. A primeira coisa que pensou foi que não era o seu tipo. Depois, dirigiu-lhe um educado sorriso.

– Desculpe-me, não a tinha visto.

Ela olhou para ele algum tempo com expressão de receio.

– Este elevador é privado – garantiu ela.

– Eu sei – replicou Gianni, com um sorriso hesitante.

– Só vai para as águas-furtadas.

– Fico contente – comentou ele ironicamente. – É para lá que vou.

– O porteiro disse-lhe...

– Quer ver a minha carta de condução, passaporte e certidão de nascimento? – perguntou-lhe Gianni sem sorrir. – Ou talvez deva pedir-lhe a sua documentação?

Com isto, a loira corou.

– Vou à festa dos Lucchesi.

– Eu também. Melhor dizendo, irei se se decidir a entrar, para as portas se fecharem.

Ela entrou e ficou atrás dele com o olhar fixo em frente. Ele decidiu dar-lhe outra oportunidade.

– É amiga de Fallon?

– Não – respondeu ela, sem olhar para ele.

– De Stefano?

– Não.

– Então, está com...

– Parece-me que não tem nada a ver com isso – replicou, antes de olhar para ele com uns olhos gélidos. – Além disso, não me interessa.

Foi a sua vez de corar.

– Garanto-lhe que eu não... – começou a dizer ele.

Abriu-se a porta do elevador. Gianni saiu sem esperar que ela saísse primeiro. Era uma sorte que o elevador os deixasse directamente no hall da casa de Stefano. Não tinha a certeza do que teria feito se tivessem ficado à porta do apartamento e tivesse tido que decidir entre tocar à campainha ou mandá-la para o Inferno.

Ele sabia que era ridículo, contudo, o mais ridículo era que ela o tivesse levado a pensar numa coisa tão infantil. Estava prestes a dizer-lhe o que pensava quando viu Stefano, que se aproximava dele. Sorriu e a loira seguiu em frente, deu um gritito de alegria e atirou-se para os braços de Stefano.

– Stefano! – exclamou ela, enquanto Gianni se misturava com a multidão, desgostoso.

Aparentemente, a princesa de gelo reservava o seu sorriso para uns poucos eleitos.

Nesse momento, viu que sorria à mulher e à filha de Stefano e que pegava no bebé ao colo. O bebé esperneou e a loira não só voltou a sorrir, mas também deitou a cabeça para trás e riu-se.

Foi uma gargalhada rouca e profunda. Noutras circunstâncias, ter-lhe-ia parecido uma gargalhada muito sedutora.

Gianni semicerrou os olhos.

Percebeu que se tinha enganado em algumas coisas sobre ela. Não tinham importância dadas as circunstâncias, no entanto, gostava de apreciar correctamente os detalhes. O seu cabelo não era loiro, mas de um dourado com dúzias de matizes. Também não era magricela, era esbelta, mas com umas ancas arredondadas e um rabo bem formado.

Além disso, quando levantou a menina no ar, os seus seios elevaram-se e até um cego teria percebido que eram redondos e transbordantes, e que não estavam constrangidos por um sutiã.

O vestido de seda verde era justo o suficiente para conseguir distinguir o contorno dos seus mamilos. Como seriam? Grandes ou pequenos? Imaginou que seriam de um rosa intenso, como os seus lábios; delicados, sedosos e sensíveis. Ficariam duros com as suas carícias, ganhariam vida com o contacto da sua língua...

O que estava a fazer? Aquilo era um baptizado, não uma despedida de solteiros. Felizmente, estava no terraço e podia ficar de costas para a festa, porque os seus erráticos pensamentos tinham tido um efeito previsível na sua anatomia.

Gianni concentrou-se na paisagem de Manhattan, que estava banhada por toda uma gama de cores rosadas do pôr-do-sol. No entanto, também não era uma boa ideia fixar-se nas cores que o levavam directamente aos seios da loira.

O verde era uma cor melhor. O verde do buxo que tinha plantado num vaso. O verde do vestido da loira, justo ao corpo...

– É bonita, não é?

Stefano estava junto a ele com um sorriso e uma garrafa de vinho na mão. Gianni assentiu e esticou o copo para que o enchesse.

– É assim tão evidente? – perguntou-lhe Gianni, com um sorriso de resignação.

– Estás a brincar? Claro que é...

– Obrigado.

– Só disse a verdade.

– Para ti é muito fácil dizê-la.

– Tens razão, mas quem se manteria impassível perante aquela beleza?

– Também não exageremos. É atraente, se é do tipo de mulher que gostas.

– Atraente?

– Sim. Tem o que terá que ter e onde terá de ter – Stefano olhava para ele como se estivesse louco. – Contudo, nem por isso é impressionante.

– Estás a brincar, não é?

– Porque haveria de brincar? Falo completamente a sério. Além disso, não é mais encantadora que uma tarântula.

Stefano ficou sério.

– Tens sorte que sejamos amigos desde infância, Firelli, senão, fazia-te engolir essas palavras.

– Que se passa? Vais zangar-te comigo porque não concordo que uma mulher é impressionante?

– Claro que... Essa mulher é... essa mulher é... – Stefano voltou a arquear as sobrancelhas. – Que mulher?

Seria isso o que acontecia a um homem quando se casava e tinha um filho? Perdia a prudência para além da liberdade?

– A loira, naturalmente – concretizou Gianni com impaciência. – A que te cumprimentou tão efusivamente. Fallon não te disse nada sobre isso?

Stefano esbugalhou os olhos, deitou a cabeça para trás e deu uma gargalhada.

– Maravilhoso – replicou Gianni com frieza. – Fico contente por te parecer...

– A loira! – exclamou Stefano. – Meu Deus, a loira...

– Efectivamente – Gianni deixou o copo numa mesa e foi para a porta.

Stefano agarrou-o pelo braço.

– Para onde vais, idiota?

– Lucchesi, eu não gostaria de te mandar ao chão na presença dos teus convidados, mas... – ameaçou Gianni entredentes.

– Estás a falar da minha filha!

– Eu disse... – Gianni pestanejou. – A tua filha? – Gianni corou. – Estavas a falar de...?

– De Cristina. Claro. Tu pensavas que estava a falar de uma mulher.

– Caramba – Gianni apoiou-se no corrimão do terraço e olhou distraidamente para a penumbra que começava a envolvê-los. – Tens razão, sou um idiota – balbuciou.

– Fico contente por estarmos de acordo em qualquer coisa – os homens ficaram em silêncio um momento, até que Stefano pigarreou. – Então, de que loira estavas a falar?

– Não importa – respondeu Gianni, com um gesto. – A que quase se atirou para os teus braços quando chegou – explicou, uns instantes depois.

– Não me esclareces nada, Firelli. Todas as mulheres se atiram para os meus braços.

– Será melhor que a mulher dele não saiba que o disseste – Gianni riu-se entredentes.

– Será melhor que a sua mulher não saiba do quê? – perguntou Fallon com um sorriso, enquanto se juntava a eles. – Gianni, fico contente por te ver.

Gianni sorriu e deu-lhe um beijo na face.

– Eu também fico contente por te ver, Fallon. A maternidade deu-te mais encanto. Achava que isso era impossível.

– Os sicilianos sabem sempre como fazer com que uma mulher se sinta bem.

– Só algumas mulheres – esclareceu Stefano. – Aparentemente, uma das nossas convidadas rejeitou a oportunidade de aumentar a lista de Gianni.

– Stefano... – avisou Gianni.

Stefano passou o braço pela cintura da sua mulher.

– Vá lá, não sejas tímido. Se te interessa alguma das nossas convidadas...

– Não me interessa – replicou Gianni precipitadamente. – Só disse...

– Diz-me qual é – propôs Fallon. – E eu apresento-ta.

Gianni olhou para Stefano, que tinha um sorriso de orelha a orelha.

– Bolas, Lucchesi. Fallon, o teu marido deu rédea solta à sua imaginação.

– Eu sei quem é – garantiu Stefano como se Gianni não estivesse presente.

– Não sabes – negou Gianni imediatamente. – Deve haver meia dúzia de loiras nesta festa.

– Mas tu disseste que esta se atirou para os meus braços.

– E?

– E que era atraente – Stefano piscou um olho à sua mulher. – Atraente, mas não bonita.

– O que queres dizer? – perguntou Gianni com frieza.

– Quero dizer que sei quem é ela – respondeu Stefano, com orgulho. – A mulher em questão é a minha cunhada.

Gianni ficou a olhar fixamente para o seu amigo.

– A tua...?

– Referia-se a Briana – explicou Stefano à sua mulher. – Porque é que um homem que pensa que uma mulher é atraente mas não bonita fica tão interessado nela?

– Não estou interessado nela. Esse tipo de mulher nunca me pareceu interessante... Demónios, estou a piorar as coisas, não estou?

– Sim – concedeu Fallon, enquanto se soltava do seu marido e se agarrava ao braço de Gianni. – A única solução é que me deixes apresentar-te a Bree, para que compreendas exactamente o que nunca te pareceu interessante.

Stefano e Fallon começaram a rir-se e ele também tentou rir-se, enquanto ela o arrastava para a sala cheia de gente. Felizmente, pensou Gianni depois de uma rápida olhadela, Bree ou Briana ou como quer que se chamasse tinha-se ido embora.

– Teria gostado muito de a conhecer – mentiu Gianni entredentes. – É uma pena que aparentemente se tenha ido embora.

– Subiu ao andar de cima para mudar as fraldas da menina – informou Fallon, enquanto se dirigia para uma escada de caracol. – E não vou deixar que te escapes.

– Fallon, a sério, lamento muito. Não devia ter dito o que disse da tua irmã. Tenho a certeza de que é encantadora e bonita...

– Bree! – exclamou Fallon. – Finalmente encontro-te.

Gianni parou de olhar para a sua anfitriã para olhar para a mulher que descia as escadas.

Tinha acertado da primeira vez. Briana O’Connell não era bonita. Era impressionante.

A cabeleira loira caía-lhe até aos ombros e emoldurava um rosto dominado por uns olhos azuis como o mar. A boca, de um cor-de-rosa intenso, era tão carnuda que despertava nele o desejo de saborear o seu delicado calor. Os seios eram belos, a cintura, esbelta, as ancas, suavemente arredondadas e as pernas, longas, intermináveis.

Pelo menos não tentou congelá-lo com o olhar.

Embora também não tivesse sido fácil, quando não olhou para ele mais de um segundo.

– Bree, apresento Gianni Firelli. Gianni, ela é Bree, a minha irmã mais nova.

– O meu nome é Briana – particularizou o espectro loiro, antes de se dirigir à sua irmã. – A criança adormeceu assim que a pus no berço. Deixei-a com a ama, tudo bem?

– Perfeito. Bree... Gianni é um dos melhores amigos de Stefano.

Dessa vez, Gianni mereceu a atenção do seu gélido olhar.

– Fico contente pelos dois. Se me desculparem...

– Porque haveria de te desculpar? – Gianni afastou-se um pouco de Fallon, aproximou-se de Briana e baixou a voz. – És sempre tão impertinente ou é pessoal?

Aqueles olhos azuis colidiram com os de Gianni, que conseguiu captar no fundo um brilho de paixão que esteve prestes a queimá-lo por dentro.

– Sobrestimas-te – sussurrou ela antes de se ir embora.

Gianni nunca tinha entendido o que queria dizer que fervesse o sangue a alguém, contudo, nesse momento, entendeu. Observou-a a afastar-se e imaginou o prazer de a seguir, de a agarrar e abanar até que lhe pedisse clemência...

Ou de pegar nela ao colo, levá-la para algum quarto onde lhe pudesse tirar o vestido verde e aquele olhar gelado, acariciar-lhe o cabelo e beijá-la até que ela se entregasse e pedisse mais...

– Lamento, Gianni...

Ele pestanejou e olhou para Fallon. Ela parecia tão alterada como ele.

– Bree não é... não é arisca. Não sei o que se passou.

– Não te preocupes – tranquilizou Gianni, com um sorriso forçado.

– Mas preocupo-me. Vou procurá-la e...

– Não! – exclamou rotundamente. Gianni voltou a esboçar um sorriso e começou outra vez. – A sério, Fallon, não me sinto ofendido.

– Então, devias estar. Mais tarde, quando estivermos sozinhas...

– Esquece. Se calhar teve um dia difícil.

– Bree? Um mau dia? Isso é impossível. Ela não faz nada que possa chamar-se difícil.

Excepto tratar os homens como se fossem seres desprezíveis, pensou Gianni, embora não o tivesse dito. Fallon não era responsável pelo comportamento da sua irmã.

– Não trabalha?

– Teve milhares de empregos. Foi fotógrafa, assessora, empregada, ajudante num concurso de televisão... A nossa mãe diz que ainda está a tentar encontrar-se, porém, sinceramente, a minha outra irmã e eu não acreditamos que alguma vez se tenha perdido. Simplesmente, é... inconstante.

Era uma forma amável de dizer que Briana O’Connell era pouco séria, não só impertinente e arisca. Uma mulher que não seria o tipo de nenhum homem prudente, já para não dizer nada dele próprio.

– Fallon – Gianni segurou nas mãos da sua anfitriã entre as suas. – Passei uma tarde maravilhosa.

– Não te vais já embora...

Ele sorriu e beijou-lhe levemente as mãos.

– Receio que não tenha outro remédio. Tenho um jantar esta noite.

– Oh... Stefano e eu esperávamos que ficasses quando se fossem todos embora. Queria falar dos velhos tempos contigo.

– Haverá outra oportunidade, prometo-lhe. Despede-te dele por mim, está bem?

– Claro – Fallon agarrou-o pelo braço, enquanto atravessavam lentamente o hall. – Gianni... lamento muitíssimo o que a minha irmã fez.

– Não te preocupes. Já me tinham rejeitado outras vezes.

– Mentes muito mal – Fallon riu-se e segurou-lhe na cara. – Ambos sabemos que qualquer mulher desmaiaria como uma donzela se lhe dedicasses um sorriso.

– Isso dito por ti parece música celestial – comentou ele, desembaraçado.

Ela voltou a rir-se, pôs-se em bicos de pés e deu-lhe um leve beijo nos lábios.

– Gostei muito de te ver. Obrigada pelo teu maravilhoso presente para Cristina.

– De nada. Ciao, Fallon.

– Adeus, Gianni.

O elevador estava à espera dele. Gianni entrou sem parar de sorrir até que se fecharam as portas. Depois franziu o sobrolho e tirou o telemóvel do bolso. Lynda atendeu à primeira.

– Sim? – atendeu ela com um sussurro que sempre o tinha comovido.

Dessa vez, por muito estranho que fosse, não o fez.

– Sou eu.

– Gianni... – o sussurro tornou-se num ronronar. – Esperava a tua chamada. Vens?

O elevador chegou ao hall, Gianni saiu, fez um gesto com a cabeça ao porteiro e saiu para a rua.

– Vamos jantar.

– Claro, querido. Vamos sair? Ponho-me bonita... ou fico como estou? Acabo de tomar um banho e vesti apenas o vestido de seda que me ofereceste.

Um vestido cor-de-rosa intenso, como os lábios de Briana.

– Gianni? Estás a ouvir-me?

Ele pigarreou.

– Sim, estou, Lynda.

– O que queres fazer? Podíamos conhecer o restaurante de que toda a gente fala. Tu sabes, Os Prados Verdes, dizem que é incrível.

Verde, como o vestido que cobria o esbelto corpo de Briana. Incrível, como o seu rosto maravilhoso...

– Gianni...

Subitamente, Gianni soube o que queria fazer. Não tinha nada a ver com Briana. Era algo que lhe rondava a cabeça já há algumas semanas e agora era o momento.

– Lynda.

– Diz.

– Não te incomodes a fazer reservas. Chegarei dentro de vinte minutos – fez uma pausa. – Veste-te – acrescentou amavelmente. – Está bem?

Gianni ouviu que ela respirava precipitadamente.

– Gianni... passa-se alguma coisa?

– Dentro de vinte minutos – repetiu antes de desligar o telefone.

Uma hora depois, Gianni saiu do apartamento de Lynda pela última vez. Ela ficou a chorar e ele detestava saber que era por sua culpa, contudo, já ao princípio da sua relação tinham concordado que nenhum dos dois estava interessado num compromisso e que quando chegasse o momento de acabar o fariam com sinceridade.

– Eu sei – reconheceu ela, quando o recordou. – No entanto, pensava que as coisas tinham mudado.

Nada tinha mudado. As mulheres diziam sempre uma coisa no princípio da relação e outra no fim.

Gianni suspirou. A escuridão apropriou-se da cidade e desejava chegar a sua casa, tomar um duche e esquecer-se de um dia tão estranho. Pensou em mandar parar um táxi, mas decidiu dar um passeio.

No dia seguinte mandaria algo a Lynda para a animar. Talvez lhe mandasse uma pulseira. Algo suficientemente caro para enxugar as lágrimas dela e tranquilizar a sua consciência, porque uma coisa era a sinceridade e outra, acabar uma relação sem aviso prévio.

A verdade era que ele não tinha pensado em acabar até pouco antes de o fazer. Tinha estado contente até ter ido à maldita festa. Até ter olhado para os olhos de uma mulher que parecia não se importar que ele existisse e ver uma coisa diferente naqueles olhos.

Um brilho cego de paixão.

Sentiu um frio inesperado para o calor do dia, levantou a gola do casaco, pôs as mãos nos bolsos e pôs-se a caminho.