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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Sharon Kendrick

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Segredo de mulher, n.º 2222 - Fevereiro 2017

Título original: Her Secret Pregnancy

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9459-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

O advogado era inteligente, sofisticado e atraente e tinha as mãos mais arranjadas que Donna alguma vez vira.

– Bom, Donna, assina aqui, por favor – o advogado assinalou uma zona do papel. – Vês? Exactamente aqui

Donna conteve a vontade de se rir.

– Referes-te à linha que a tua secretária assinalou com uma cruz?

– Ah, sim, desculpa – disse ele rapidamente. – Não era a minha intenção insultar-te.

– Não te preocupes, não insultaste – Donna escreveu a sua assinatura. – Não sabes como estou contente por tudo ter finalmente acabado.

A expressão de Tony Paxman não se reflectiu nas palavras de Donna.

– Vou sentir a tua falta – Tony suspirou. – Enfim, a propriedade já é tua e conseguiste a licença para servir álcool. Parabéns, Donna! Desejo-te todo o sucesso do mundo.

– Obrigada – respondeu ela.

Donna pegou no seu casaco de seda creme e dedicou a Tony Paxman um sorriso de agradecimento. O advogado, com uma diligência suprema, encarregara-se dos trâmites burocráticos referentes à compra da propriedade. E, mais importante ainda, fizera-o com uma discrição absoluta. Donna devia-lhe um favor.

– Queres almoçar comigo para celebrar?

Tony pestanejou. A sua expressão de surpresa sugeriu que um convite para almoçar, vindo de Donna King, era a última coisa que esperava ouvir.

– Almoçar? – repetiu Tony fracamente.

Donna arqueou o sobrolho. Não estava a fazer-lhe nenhuma proposta indecente!

– Estou a infringir alguma lei ao convidar-te para almoçar comigo?

Tony abanou a cabeça rapidamente.

– Não, não, absolutamente. Na verdade, almoço com os meus clientes várias vezes.

– Imagino que sim – Donna olhou para o relógio. – Pode ser à uma hora? No New Hampshire?

– No New Hampshire? – Tony Paxman sorriu com pesar. – O restaurante de Marcus Foreman? Eu adoraria, mas não me parece que consigamos uma mesa para hoje. Para comer nesse restaurante é preciso fazer a reserva com muita antecedência. Será impossível encontrar mesa para hoje.

– Eu sei – Donna sorriu. – Por isso é que reservei uma mesa a semana passada.

Tony franziu o sobrolho.

– Estavas assim tão certa de que conseguiríamos resolver tudo hoje?

– Sim. Sabia que hoje era o dia em que chegava a licença e não pensei que surgisse nenhum imprevisto.

– És uma mulher com muita confiança em ti mesma, Donna – disse Tony com voz suave. – Além de seres extremamente bonita.

Chegara o momento de destruir as suas ilusões. Era uma pena que alguns homens interpretassem simples gestos de amizade como um convite para alguma coisa mais profunda e íntima.

– Por favor, Tony, não te iludas – disse-lhe ela. – É um almoço amigável. É uma forma de te demonstrar como estou agradecida pelo teu empenho. É só isso, mais nada.

– Está bem – Tony começou a ordenar papéis na sua secretária com uma urgência repentina. – Bom, então encontramo-nos à uma hora no New Hampshire, está bem?

– Combinado – Donna agarrou na sua mala e levantou-se. – Até à uma hora, Tony.

– Adeus – respondeu ele.

Fora do escritório do advogado, Donna respirou o ar fresco de Abril, quase sem conseguir acreditar que estava de volta àquela cidade de que tanto gostava. Desde a sua chegada, algumas semanas antes, mantivera o seu regresso em segredo, contudo, já não havia necessidade de se esconder. Voltara e ia ficar.

Estava um dia perfeito: céu azul e sol. As pétalas brancas lustrosas de uma magnólia brilhavam como estrelas. Perfeito. E o que coroava tudo era a sua aquisição.

Toda a gente lhe dissera que era uma loucura abrir uma «casa de chá» numa cidade como Winchester, já a transbordar de cafés e restaurantes. E tinham razão, contudo, a maioria dos estabelecimentos pertencia a cadeias grandes e impessoais. Só um se destacava e pertencia a Marcus Foreman.

Donna controlou a excitação, os nervos e uma sensação que há muito tempo não experimentava e que pensara que seria impossível voltar a sentir. Era uma sensação esquecida há muito tempo, porém, ali estava, urgente e insistente, causada pela possibilidade de voltar a ver Marcus.

Excitação. Uma excitação que lhe produzia ardor nos mamilos e tremor no resto do corpo.

– Bolas! – exclamou Donna em voz alta. – Bolas, bolas!

E, depois de subir a gola do casaco para se proteger do ar frio da Primavera, Donna começou a descer a rua para ver algumas montras até que chegasse a hora do seu almoço.

Passeou devagar à frente das lojas, olhando sem interesse excessivo para as roupas caras. Roupa linda feita com tecidos naturais de seda, algodão e caxemira. Roupa que, em qualquer dia normal, faria com que se sentisse tentada a examinar cuidadosamente e talvez a comprar.

No entanto, aquele não era um dia normal. E não apenas porque não era todos os dias que alguém investia as suas economias num negócio que algumas pessoas consideravam destinado a fracassar.

Não, aquele dia era diferente porque, apesar de caminhar para a frente, Donna ia recuar. Ia voltar para o lugar onde conhecera Marcus e onde aprendera tudo sobre o amor e o sentimento de perda.

Há uma hora, Donna entrara no New Hampshire, com a esperança de dar a impressão de ter uma confiança em si mesma que naquele momento não sentia.

O restaurante mudara completamente. Quando ela trabalhara naquele local, a decoração era muito mais excessiva, com folhos, rendas e flores.

No entanto, Marcus mudara-o com os tempos. Os tapetes tinham desaparecido, dando lugar a um chão encerado e cortinas simples cobriam as janelas. O mobiliário que havia era o mínimo possível e dava a sensação de simplicidade e conforto, não de opulência.

Donna recordou como se sentira intimidada da primeira vez que atravessara aquelas portas. Fora como entrar noutro mundo, contudo, acontecera quando acabara de fazer dezoito anos; já tinham passado nove anos e toda uma vida.

Donna aproximou-se do balcão de recepção onde havia uma jarra gigante com flores aromáticas. As pétalas carnudas dos lírios estavam rodeadas por uma folhagem verde espinhosa. Era um arranjo floral extraordinário… mas Marcus sempre tivera um gosto excelente.

A recepcionista levantou o rosto.

– Em que posso ajudá-la, senhora?

– Sim, olá… Tenho uma mesa reservada – Donna sorriu.

– O seu nome, por favor?

– King. Donna King – pareceu-lhe que a sua voz soava um pouco alta e esperou que Marcus surgisse de entre as sombras. – Venho encontrar-me com o senhor Tony Paxman.

A recepcionista leu a lista e marcou o nome de Donna antes de voltar a levantar a cabeça.

– Sim. O senhor Paxman já chegou e está à sua espera – a recepcionista, com educação, lançou a Donna um olhar interrogante. – Já alguma vez tinha almoçado no New Hampshire?

Donna abanou a cabeça.

– Não.

Fizera camas e limpara as casas de banho dos quartos do andar de cima e também comera os deliciosos restos de comida que costumava haver na cozinha. E uma vez, com o resto do pessoal do restaurante, comera na sala privada do andar de cima quando Marcus convidara todos os funcionários para celebrar um artigo deveras lisonjeador sobre o restaurante num jornal.

Donna engoliu em seco ao recordar aquele incidente em concreto. Fizera todas aquelas coisas, porém, na verdade não podia dizer que tivesse comido no restaurante.

– Não, nunca almocei aqui.

– Nesse caso, chamarei alguém que a leve para a sua mesa.

Donna, decidida a não se deixar intimidar e repetindo a si mesma que trabalhara e comera em lugares daqueles por todo o mundo, seguiu um dos empregados.

No entanto, o seu coração batia com força ao pensar na possibilidade de voltar a vê-lo e perguntou-se porquê.

Já que superara o que acontecera com Marcus.

Há muitos anos.

O restaurante estava quase lotado e Tony Paxman levantou-se ao vê-la a aproximar-se.

– Começava a pensar que não vinhas.

– Oh, homem de pouca fé! – brincou Donna, sorrindo ao empregado que, educadamente, esperava. – Por favor, traga-nos champanhe da casa.

– É claro, senhora.

Tony Paxman esperou pela segunda taça de champanhe para comentar de forma sombria:

– Esperemos que dentro de seis meses continues a ter motivos de celebração.

– O que queres dizer?

Tony encolheu os ombros.

– Marcus Foreman não vai gostar de ter a concorrência de um novo estabelecimento na cidade.

– A sério? Toda a gente o conhece, a sua reputação na hotelaria é extraordinária. E suponho que é homem para aguentar um pouco de concorrência, não achas?

– Suponho que é homem para a maioria das coisas – observou Tony com cinismo, – mas talvez não lhe apeteça ter concorrência na mesma rua.

Donna deixou o caroço de uma azeitona no pires que tinha à sua frente.

– Vá lá, não sou uma rival a sério, pois não? Além disso, o hotel dele só serve chá à tarde e aos seus hóspedes.

– É verdade, mas e se os hóspedes do hotel começarem a ir ao teu estabelecimento?

Donna encolheu os ombros e sorriu, ao mesmo tempo que levantava a sua taça para brindar.

– É um país livre. Que vença o melhor!

– Que vença o melhor – repetiu Tony.

Donna examinou o menu, que considerou excelente.

– Vamos escolher? Estou cheia de fome.

– Parece-me perfeito. Depois, fala-me sobre a tua vida – Tony franziu o sobrolho. – Sabes uma coisa? Tens uma cor de cabelo incrível, vermelho dourado. Aposto que te vestias de princesa quando eras pequena.

– Não, vestia-me com farrapos – brincou Donna, apesar de realmente não ser uma brincadeira.

Passara uma infância itinerante com a sua carinhosa, mas louca mãe. Com ela, aprendera a arte do exagero e da evasão e, depois, que ambas as coisas eram formas diferentes de mentir. Também aprendera que as mentiras se tornavam mais e maiores, até que acabavam por engolir as pessoas.

Donna sorriu para Tony Paxman.

– Falemos sobre ti. E depois conta-me tudo o que sabes acerca de Winchester.

Tony começou a falar e Donna esforçou-se realmente por desfrutar da comida e da companhia de Tony.

No entanto, Donna estava demasiado distraída para se concentrar na conversa. Ou na comida. Estranho. Não achara possível que Marcus ainda tivesse o poder de fazer com que perdesse o apetite.

Contratava sempre os melhores cozinheiros, mesmo ao princípio, quando não podia pagar-lhes bons salários. E a cozinha daquele restaurante não baixara de qualidade. Donna contemplou a perfeita pirâmide de mousse de chocolate no meio de algumas bananas.

Talvez tivesse enlouquecido ao pensar que, de alguma forma, podia competir com aquele homem.

– Donna – disse Tony de repente.

Donna afastou o seu prato para o lado e levantou o olhar.

– Hum?

– Porque me convidaste para almoçar? – Tony respondeu à sua própria pergunta sem perceber que o fazia. – Certamente, não foi porque querias aprofundar a nossa relação.

Ela, confusa, olhou para ele.

– Já te tinha dito isso no escritório.

– Sim, suponho que sim – Tony encolheu os ombros. – Talvez tivesse a esperança de que mudasses de ideia.

– Lamento – disse ela com voz suave e recostou-se nas costas da cadeira para olhar para ele fixamente. – O almoço foi uma forma de te agradecer.

– Por?

– Por resolveres tudo sem complicações e por teres mantido segredo.

– Ah, sim – Tony bebeu um gole da sua bebida, olhando para ela. – Queria perguntar-te… Porque querias mantê-lo em segredo?

– Já não é nenhum segredo – Donna sorriu. – Podes dizer a quem quiseres.

Tony inclinou-se sobre a mesa.

– Disseste-me que nunca tinhas almoçado ou jantado aqui.

– E é verdade.

– Mas não é a primeira vez que aqui vens, pois não?

Donna entreabriu os olhos. Não pensara que Tony pudesse ser tão perspicaz.

– Por que razão dizes isso?

– Por causa da tua atitude. Passo a vida a observar as pessoas, é o meu trabalho. Sou um perito.

«Não és assim tão perito», pensou Donna, já que não reparara que lhe enviara sinais para que não se aproximasse dela. No entanto, não fazia sentido criar mal-entendidos.

– Trabalhei aqui – disse Donna. – Trabalhei aqui há muitos anos, quando era jovem.

– Não és propriamente velha.

– Tenho vinte e sete anos.

– E muita experiência? – brincou Tony.

– Não, não acredito – disse uma voz nas costas de Donna. – Não, se pensarmos no passado. Não concordas, Donna?

Ela não se virou. Não precisava de o fazer. Teria reconhecido aquela voz em qualquer lugar do mundo. Deitou a cabeça para trás um milímetro e quase sentiu a presença dele, apesar de não o ver.

– Olá, Marcus… – disse ela com cuidado, perguntando-se como soaria a sua voz.

Uma voz mais madura e reflexiva? Ou ainda repleta de adoração juvenil?

Marcus entrou no seu campo de visão contudo, ao princípio, Marcus não olhou para Donna, mas para Tony Paxman. Assim, Donna pôde observar Marcus sem que ele reparasse.

E o coração pareceu querer sair do peito.

Donna sabia que o encontraria e, mentalmente, ensaiara aquele momento. Um sentimento de maldade fizera com que se perguntasse se Marcus estaria careca, se o dinheiro e o sucesso teriam feito com que relaxasse, se teria uma barriga saliente ou se teria começado a usar roupa horrorosa.

No entanto, Marcus Foreman continuava a ser o tipo de homem pelo qual a maioria das mulheres abandonaria o seu lar.

– Olá, Tony! – cumprimentou Marcus.

O advogado inclinou a cabeça.

– Olá, Marcus!

– Conhecem-se? – perguntou Donna a Tony com surpresa.

– Toda a gente conhece Marcus – respondeu Tony, encolhendo os ombros.

Contudo, Donna reparou numa mudança subtil no seu companheiro de mesa. De repente, Tony Paxman já não parecia o ardiloso e atraente advogado de antes. Naquele momento, parecia um homem normal. Um homem que acabava de reconhecer o chefe da manada.

Finalmente, Marcus olhou para ela e Donna percebeu que era a sua oportunidade de reagir como prometera fazer se voltasse a vê-lo: com frieza, calma e indiferença.

O seu educado sorriso não hesitou, porém, Donna perguntou-se se se reparava na forma como o seu coração estava acelerado e o modo como as suas mãos suavam.

– Tudo bem, Donna? – perguntou Marcus devagar.

E Donna viu, com um fascínio vergonhoso, aqueles olhos azuis frios com as suas pestanas escuras.

– Tudo bem, Marcus?

Era verdade que Marcus não estava careca nem gordo nem feio, porém, mudara. Mudara muito. Não acontecia o mesmo a toda a gente?

– Vais dizê-lo tu ou preferes que eu diga? – a voz de Marcus estava impregnada de divertimento… E mais alguma coisa que Donna não conseguiu interpretar, mas que fez com sentisse a necessidade de ficar em alerta.

– Dizer o quê?

– Há quanto tempo! – respondeu ele preguiçosamente. – Não é o que costuma dizer-se quando duas pessoas se encontram depois de tanto tempo?