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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Sandra Marton. Todos os direitos reservados.

A AMANTE REBELDE DO XEQUE, N.º 1179 - Novembro 2012

Título original: The Sheikh’s Rebellious Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1344-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Era uma daquelas tardes de Dezembro que enchiam a Quinta Avenida de magia.

Ainda não anoitecera, mas os candeeiros da rua já estavam acesos, iluminando os flocos de neve grossos que caíam com indiferença do céu. As janelas brilhavam com o calor de mel que saía dos apartamentos multimilionários dos edifícios que se alinhavam na fabulosa rua. Do outro lado, Central Park resplandecia sob o seu manto branco suave.

Aquilo era suficiente para fazer sorrir até o mais enfastiado dos habitantes de Nova Iorque, mas não o homem que observava a cena da janela do seu apartamento no décimo sexto andar.

Porque é que um homem consumido por uma raiva fria havia de sorrir?

O xeque Salim al Taj, príncipe do reino de Senahdar, Leão do Deserto de Alhandra e Guardião da sua Nação, permanecia imóvel com um copo de brandy na mão. Um observador casual teria pensado que os seus claros olhos azuis estavam fixos na cena da rua. A verdade era que nem reparara nela.

Estava a olhar para o seu próprio interior. Estava a reviver o que acontecera há cinco longos meses até um súbito movimento o devolver ao presente.

Era um falcão.

A criatura selvagem pousou com graciosidade no corrimão de um terraço. O falcão não pertencia à cidade. Mas, tal como Salim, era um sobrevivente. Salim sentiu que um pouco de tensão desaparecia. Sorriu, levantou o seu copo num cumprimento silencioso e bebeu o líquido âmbar.

Ele não era nenhum sentimental. O sentimentalismo era uma fraqueza. Mas era um homem que admirava a coragem e a determinação. O falcão reunia todas aquelas qualidades. Sobrevivera naquele lugar difícil. Tal como Salim.

Aquele falcão aparecera há um ano, sobrevoando sem esforço por cima do trânsito antes de aterrar no mesmo terraço em que estava naquele momento. Aquela visão espantara Salim. Conhecia bem os falcões. Criara-os, treinara-os e pusera-os a voar nas montanhas e desertos de Senahdar. Conhecia o seu valor, a sua independência, a elegância selvagem que vibrava no seu interior.

O falcão gostava da solidão e confiava no seu instinto. Não permitiria que nada o derrotasse.

Salim parou de sorrir. Ele era assim. Há cinco meses, tinham-no enganado e em breve enfrentaria o insulto. Levantou o copo de brandy e bebeu o último gole de líquido.

Ainda se enfurecia ao recordar como lhe tinham mentido. Como caíra na armadilha mais antiga do mundo. Como aquela mulher o humilhara.

Mentira-lhe da pior maneira possível. Com o seu corpo. Com os seus suspiros e aqueles gemidos que o tinham deixado louco. Bolas! O mero facto de o recordar fazia com que voltasse a ter uma erecção. Apesar de todas as mentiras, não conseguia esquecer aquele calor de seda, a doçura da sua boca, o peso dos seus seios nas suas mãos.

Nada fora real. Ela brincara com ele e roubara-lhe a honra.

De que outra maneira podia descrever o facto de acordar uma manhã e descobrir que ela se fora embora levando dez milhões de dólares?

Um calafrio de raiva atravessou-o. Virou as costas à janela e atravessou a divisão elegante. Salim serviu-se de outro copo de brandy. Muito bem. Havia coisas que não eram verdadeiras. Não acordara para descobrir que Grace se fora embora. Isso era impossível, porque nunca tinham passado uma noite inteira juntos.

Salim franziu o sobrolho. Bom, talvez uma vez ou duas, não mais, e só por culpa do mau tempo ou porque já era muito tarde. Nunca por outra razão. Ela tinha o seu próprio apartamento e ele tinha o dele. Era assim que ele gostava, por muito longa que fosse a relação. A familiaridade levava ao aborrecimento.

Daquela última vez, Salim saíra da sua cama numa sexta-feira à noite e fora para a Costa Oeste tratar de negócios. E quando regressara a Nova Iorque uma semana mais tarde, ela já não estava lá. Nem os dez milhões de dólares que roubara da empresa de Salim.

Desviara o dinheiro de uma conta a que só ele tinha acesso. Salim bebeu um gole do seu brandy e virou-se devagar. Dez milhões de dólares, dos quais não recuperara nada. Nem voltara a saber nada da mulher que os roubara. Mas saberia. Oh, sim, saberia muito em breve.

Naquele dia não fora capaz de pensar noutra coisa depois de receber a chamada do detective privado que contratara quando a Polícia e o FBI não tinham conseguido nada. Agora não conseguia pensar noutra coisa enquanto esperava pela chegada do homem.

Cinco meses. Vinte semanas. E, finalmente, ia obter o que tanto ansiava, um antigo conceito que sem dúvida os seus antepassados aprovariam. A vingança.

Bebeu mais um gole de brandy. Deixou-lhe uma chama suave na garganta ao bebê-lo, mas a verdade era que nada conseguia aquecê-lo. Já não. Não enquanto não acabasse o que começara no Verão anterior, quando escolhera Grace Hudson como amante. Até aí nada fora estranho. Era um homem, estava na maturidade sexual, e a verdade era que nunca tivera de andar atrás das mulheres. Elas descobriram-no quando tinha dezasseis anos em Senahdar e, depois disso, sempre que queria estar com uma mulher, assim fora.

O estranho fora que escolhesse Grace para ser sua amante.

As mulheres que escolhia eram sempre bonitas. Gostava especialmente das morenas e complacentes. Salim era um homem moderno, fora educado nos Estados Unidos, mas a tradição era a tradição e uma mulher que sabia como agradar a um homem era uma mulher capaz de manter o interesse vivo.

Grace não fora nada assim.

Era alta. Um metro e oitenta mais ou menos, mas continuava a chegar-lhe só ao ombro, mesmo que usasse saltos altos. Não tinha o cabelo escuro, mas claro. Da primeira vez que a vira, sentira vontade de lhe tirar os ganchos e deixá-lo solto. E quando finalmente o fizera, parecera uma leoa magnífica.

Quanto a dar prazer a um homem… ela não agradava a ninguém. Era educada e bem-falante, mas tão directa como qualquer homem. Tinha opinião para tudo e não hesitava em expressá-la.

Era um desafio enigmático e belo. Nunca lhe enviara aquele tipo de sinais que as mulheres enviavam quando estavam interessadas num homem.

Agora entendia a razão, é claro. Era um ardil tramado desde o começo para o fazer morder o anzol. Salim não o adivinhara. Só percebera que ela era diferente.

Salim nunca misturava o trabalho com o prazer, mas um acontecimento inesperado trouxera Grace para a sua vida. O seu director financeiro vira-se preso na crise dos cinquenta e decidira ir viver para Miami com uma loira de um dia para o outro. Vira-se obrigado a substituí-lo a toda a pressa. Salim fizera o lógico nesses casos: promovera o assistente do director financeiro, Thomas Shipley. Isso deixava o lugar de assistente vazio. Portanto, pedira-lhe para contratar alguém. Era muito simples.

Demónios. O copo de brandy estava outra vez vazio. Salim aproximou-se do bar para o encher. Onde estava o detective? Tinham combinado às quatro e meia. Consultou o relógio. Ainda não eram quatro. Estava a começar a impacientar-se.

«Acalma-te», disse para si. Já que esperara tanto, bem podia aguardar um pouco mais.

Lá fora, a escuridão da noite invernal começava a espalhar-se, era hora de acender as luzes, mas a escuridão adaptava-se melhor ao seu humor.

Todos os detalhes do que acontecera depois de dizer ao seu novo director financeiro para contratar um assistente continuavam vivos, incluindo o que acontecera duas semanas mais tarde, quando Shipley entrara no seu escritório.

– Boas notícias! Encontrei três candidatos. Qualquer um deles seria uma escolha excelente!

– Escolhe um – respondera Salim, que estava ocupado com outro assunto.

– Mas eu sou novo e o assistente também será – insistira Shipley. – Preferiria não carregar completamente com a responsabilidade, senhor. Acho que será melhor tomar a decisão final.

Salim protestara, mas sabia que Shipley tinha razão. A Investimentos Alhandra era a menina dos seus olhos. Criara-a e gerira-a sozinho. No dia seguinte, reunira-se com os três candidatos. Todos tinham uns currículos excelentes, mas um deles era espectacular. Só havia um pequeno problema.

Tratava-se de uma mulher.

Uma mulher assistente do director financeiro? Seria uma mulher capaz de lidar com os problemas de uma corporação financeira?

Percebeu que sim, que era extremamente capaz.

Grace Hudson licenciara-se em Cornell e Stanford e trabalhara para as melhores firmas de Wall Street. Era eloquente e culta. E o que importava que fosse a mulher mais bonita que Salim alguma vez vira?

Grace era educada, mas reservada. E ele também. Salim nunca misturava o prazer com os negócios e ela não era o seu tipo.

Não importava o facto de a rouquidão da sua voz o perseguir naquela noite em sonhos, nem que se perguntasse que aspecto teria aquele cabelo frisado solto à volta do seu rosto em forma de coração, nem que durante a entrevista se perguntasse durante um instante o que teria por baixo do fato…

Mas dissera para si que nada daquilo era importante e contratara-a.

Três meses mais tarde fora para a cama com ela.

Fora uma noite de sexta-feira. Tinham estado a trabalhar até tarde e Salim oferecera-se para a levar a casa. Grace vivia em Soho. Ele mencionara que o tinham convidado para a inauguração de uma galeria próxima no sábado. Gostaria de ir com ele? Não fora a sua intenção fazer semelhante sugestão, mas, depois de a fazer, dissera para si que era demasiado tarde para desistir. Ao ver que ela hesitava, fizera uma brincadeira, comentando que esses eventos costumavam ser muito aborrecidos e que ficaria contente se ela o salvasse de morrer de aborrecimento. Grace riu-se e, finalmente, dissera que sim. Despediram-se com educação até ao dia seguinte.

No sábado também tinham sido muito correctos até ao momento em que Salim a levara a casa. Então, tinham-se olhado nos olhos e ele soubera que estivera a enganar-se, que embora não lhe tivesse tocado, para além de lhe apertar a mão no dia em que a contratara, estivera a sonhar com ela, desejando-a durante semanas.

Sem aviso prévio, Salim agarrara-a pelos ombros e apertara-a entre os seus braços.

– Não – dissera ela. Então, a boca de Salim prendera a dela.

Grace tinha a boca doce e húmida e os seus beijos eram tão apaixonados como os dele. Parecia que nunca beijara uma mulher até àquele momento. O seu sabor era como uma droga.

– Salim – sussurrara, quando ele lhe segurara o rosto. – Não devíamos…

Ele deslizara as mãos no interior do casaco, acariciando-lhe os mamilos com as pontas dos dedos, e Grace emitira um gemido que Salim nunca esqueceria. Um minuto mais tarde, apoiara-a contra a parede, com a saia levantada à altura das ancas, as meias de renda rasgadas e penetrara-a, sossegando os seus gritos com a boca, mexendo-se várias vezes, reclamando-a como dele, tal como desejava fazer desde que a vira. Não se importava que estivessem no corredor fora do seu apartamento e que qualquer pessoa pudesse vê-los, ao diabo com o decoro.

Ela alcançara o êxtase entre os seus braços e, quando tinham voltado a recuperar a respiração, Grace pusera a chave na fechadura e Salim levara-a para o quarto para fazerem amor outra vez.

Fizera amor com ela durante os seguintes três meses. Cada vez que podia. Na sua cama. Na de Grace. Na parte de trás da limusina, numa estalagem de Nova Inglaterra e uma vez no seu escritório… até esse ponto o enfeitiçara, porque era assim, arrastava-o cada vez mais para um desejo que obscurecia tudo o resto.

Três meses depois, Grace desaparecera. E com ela dez milhões de dólares e as ilusões que ele fora suficientemente estúpido para ter.

O copo partiu-se na mão de Salim. O líquido âmbar espalhou-se pelo chão de madeira juntamente com os vidros. Um carreiro de sangue sujou-lhe a palma da mão e Salim tirou um lenço imaculado do bolso superior do casaco e pô-lo à volta da ferida.

– Bolas! – exclamou, quebrando o silêncio do apartamento.

Salim caíra no truque mais velho do mundo. Por causa de uma mulher. Caíra nas mentiras de uma mulher bonita que sabia como usar o sexo para cegar um homem. E porque voltava a recordar os detalhes? Sabia-os de cor. Revira-os até não poder mais, contara à polícia, ao FBI e ao detective privado. Tivera de suportar a humilhação de ver os seus olhares quando dissera que sim, que tivera uma relação sentimental com ela, sim, tinha acesso ao escritório da sua casa, à sua secretária, aos seus papéis, ao seu computador…

Ninguém conseguiu dar com ela nem com o dinheiro.

E então, naquela manhã o detective telefonara.

– Alteza – dissera-lhe, – localizámos a menina Hudson.

Salim respirara fundo e marcara uma reunião com ele. Ali. Em sua casa.

Naquele instante, tocaram à campainha. Salim consultou o relógio. O detective adiantava-se. Ainda bem. Quanto mais depressa tivesse a informação de que precisava, melhor.

– Sim? – perguntou, pelo intercomunicador.

– O senhor John Taggart deseja vê-lo, senhor.

– Faça-o entrar.

Salim saiu para a entrada de mármore, cruzou os braços e esperou. Alguns instantes mais tarde, abriram-se as portas do elevador privado e Taggart saiu. Tinha uma pasta sob o braço.

– Alteza…

– Senhor Taggart…

Os homens apertaram a mão. Salim convidou-o a entrar na sala, onde o detective viu o copo partido no chão e reparou na mão de Salim, coberta pelo lenço.

– Foi um acidente – explicou Salim. – Não tem importância.

Taggart abriu a pasta, tirou alguns papéis e deu-os a Salim. Por cima deles havia uma fotografia.

– Grace Hudson – disse Taggart.

Salim assentiu. Como se precisasse que lho dissessem. É claro que era Grace. Na fotografia aparecia numa rua de cidade. Tinha fato de casaco e saltos altos e parecia uma jovem inocente. Mas não era.

– Está a viver em São Francisco com o nome de Grace Hunter.

– Está na Califórnia? – perguntou Salim, levantando o olhar.

– Sim, senhor. Trabalha num banco como auditora chefe.

Isso era um passo atrás em comparação com o trabalho como assistente do director de finanças da Investimentos Alhandra, mas Grace não conseguira uma carta de recomendação. Salim franziu o sobrolho. Também não precisava. Dez milhões de dólares e a sua ex-amante estava a trabalhar como auditora?

– Hunter era o apelido de solteira da sua mãe e, com um trabalho assim, consegue passar despercebida. É uma táctica comum entre os ladrões inteligentes. Esperam um ano ou dois e, depois, dirigem-se para o Brasil ou para as Caraíbas para começarem a gastar o dinheiro.

Salim assentiu. Sim, Grace era inteligente. Mas não o suficiente.

– Como é possível que as autoridades não a tenham encontrado?

– Têm casos mais urgentes – respondeu o detective, encolhendo os ombros.

Salim voltou a olhar para a fotografia.

– Tem algum amante?

– Não verifiquei – Taggart sorriu. – Mas o seu chefe parece muito interessado nela.

Salim sentiu-se como se lhe dessem um murro no estômago.

– O que quer dizer isso?

– Acompanha-a a casa algumas noites e vai levá-la a uma conferência em Bali. Estarão lá uma semana – outro sorriso tímido. – Sabe como é isto, Alteza.

Sim. Sabia. Bolas, sabia! E agora sabia também porque é que Grace estava a trabalhar naquele banco de São Francisco.

– Na pasta tem tudo o que precisa – continuou o detective. – A morada da senhora, o lugar onde trabalha e até o nome do hotel de Bali onde o seu chefe e ela… Onde vai celebrar-se a conferência.

Salim assentiu com secura. Porque havia de culpar o mensageiro? Taggart era suficientemente perceptivo para ver a verdade a respeito de Grace e ele não fora.

– Foi de grande ajuda – garantiu, acompanhando-o ao elevador.

– Quer que avise as autoridades, xeque Salim?

– Eu ocupar-me-ei disto a partir de agora.

– Se for mesmo atrás dela, posso descobrir que tipo de acordo de extradição temos com Bali.

– Mande-me a conta. E obrigado por tudo.

Quando Taggart entrou no elevador, Salim aproximou-se novamente da janela.

Porque devia ir atrás de Grace? Tinha contactos. Podia fazer com que a trouxessem e, depois, enfrentá-la.

Salim cerrou os dentes. Tirou o telemóvel do bolso e carregou numa tecla. O seu piloto atendeu ao primeiro toque.

– Senhor?

– Quanto tempo demoraria a preparar o avião para uma viagem a Bali?

– Bali – disse o piloto, com tranquilidade. – Nenhum problema, Alteza. A única coisa que tenho de fazer é pôr combustível e descarregar o plano de voo.

– Faça-o! – ordenou Salim, antes de desligar.