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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Sharon Kendrick. Todos os direitos reservados.

PAIXÃO GREGA, N.º 751 - Março 2013

Título original: The Greek’s Secret Passion.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2579-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Uma voz masculina, quente e doce, pairava no ar, e o seu sotaque levou Molly a pousar a esferográfica, olhando, ensimesmada, através da janela aberta.

Nato, Zoe – tornou a voz. – Maressi!

Era uma voz grega, sem margem para dúvidas; uma voz suave, sexy e profunda.

À cabeça de Molly afloraram pedaços de recordações, até que, usando da razão, as mandou «ir dar uma volta». Ter tido, há tempo, um amante grego, não significava necessariamente sofrer um ataque de coração de cada vez que ouvisse falar um dos seus compatriotas. A dor aguda que sentira fora instintiva, mas momentânea, de modo que voltou a pegar na caneta.

Voltou, então, a ouvir a voz que, dessa vez, ria, e Molly ficou petrificada. O riso é uma marca individual. As vozes mudam, tornam-se parecidas ao ouvido, mas não se dá o mesmo com o riso. O riso é diferente, e foi essa ideia que a conduziu directamente a um lugar proibido.

Molly caminhou para a janela, com o coração a bater apressadamente, preparada para ver, com toda a certeza, um indício de que não passava de uma tola romântica.

Mas o cabelo negro-azeviche do homem que, com uma facilidade espantosa, tirava do carro uma mala, pouco contribuiu para a convencer de que os seus pensamentos tinham sido ridículos. De que é que estava à espera? Que o portador da voz fosse loiro? Porque, sendo grego, e decerto que o era, pela lógica deveria ter um cabelo escuro como o carvão, a pele queimada e esse género de força que poucos dos homens que encontrava possuíam.

Com um empurrão, ele fechou a porta do automóvel e, como se soubesse que estava a ser observado, levantou a cabeça na direcção da casa, pelo que Molly se afastou rapidamente da janela. Que impressão lhe causara? A de uma vizinha curiosa, que espreita pelo intervalo das cortinas, no intuito de ver que tipo de família alugou a casa ao lado.

Porém, ao ouvir fechar-se a porta da casa adjacente, uma ligeira sensação de inquietude fez acelerar-se-lhe o coração e, ao pegar de novo na caneta, notou que lhe tremiam os dedos.

«Esquece-o», disse para si mesma. «Deixa de pensar nele».

Mais tarde, enquanto tomava alguns apontamentos, decidiu que era exactamente isso que iria fazer.

 

 

Dimitri deixou a mala no chão da entrada, enquanto a sua filha falava entusiasticamente sobre os altos tectos, as enormes janelas e o jardim de sonho que havia nas traseiras.

– É uma casa óptima, não é? – perguntou Dimitri, com um sorriso.

– É maravilhosa, papá!

– Queres escolher o teu quarto?

– Aquele que eu quiser? – admirou-se Zoe.

Dimitri dirigiu-lhe um sorriso indulgente que, por um instante, lhe suavizou os traços faciais.

– Aquele que tu quiseres – respondeu, impassível, enquanto reparava na montanha de cartas que estavam na mesa da entrada. A maioria eram facturas ou publicidade; havia também um envelope branco, grande e dispendioso, dirigido aos novos residentes.

Dimitri fez com os lábios um trejeito de desagrado, deixou por abrir a pilha de correio e esteve a desempacotar as coisas durante uma hora, arrumando a roupa de seda e linho nos diversos armários e gavetas, com aquela eficácia que só adquire quem está acostumado a viajar.

Acabava de colocar o computador na divisão que lhe serviria de escritório, quando a campainha da porta se fez ouvir. Franziu o sobrolho.

A nenhum dos seus correspondentes de trabalho ocorreria dirigir-se ali. Tinha alguns amigos na cidade, mas planeara telefonar-lhes apenas quando se encontrasse instalado. Pensou que só poderia tratar-se de um vizinho. De quem mais, a não ser de alguém de uma casa próxima que os tivesse visto chegar?

Desejava sinceramente que aquela não fosse a primeira de uma longa série de amáveis vizinhos, ainda que isso fosse pedir demais. Tudo tinha o seu preço, e ele escolhera intencionalmente uma casa situada numa zona residencial, em especial para o bem de Zoe. Os vizinhos proporcionar-lhe-iam a segurança, a protecção e a normalidade que não se encontrava nos hotéis, se bem que, por outro lado, tivessem a desvantagem de tentar intrometer-se, aproximando-se demasiado.

E Dimitri Nicharos não permitiria que ninguém se aproximasse demasiado.

Desceu as escadas e abriu a porta com um sorriso frio, disposto a dizer «bom dia» e «adeus», com um breve intervalo. No entanto, o sorriso evaporou-se-lhe dos lábios ao contemplar a mulher alta e loira que, de pé e com uma garrafa de vinho na mão, apresentava uma expressão tal que parecia ter visto um fantasma.

Dimitri demorou um momento a consciencializar-se da identidade daquela para quem olhava e, quando o fez, sentiu a mesma incredulidade que levara a que os lábios da mulher se abrissem até formar um «O», embora mantivesse a expressão calma e impassível. Precisava de tempo para pensar, para assimilar os factos e, desse modo, ocultar a sua reacção. Tinha aprendido a fazê-lo. Jamais desejava que alguém soubesse o que estava a pensar, porque o conhecimento era poder, e a si, agradava-lhe manter o fiel da balança a seu favor.

– Bom dia – disse suavemente, enquanto a olhava com atenção, como se falasse com uma perfeita desconhecida. Mas era isso que ela era, e talvez até o tivesse sido sempre.

Molly devolveu-lhe o olhar, com a respiração acelerada. Era como encontrar-se de repente em cima de uma montanha, sem se ter dado conta de a ter escalado. Sentiu-se enfraquecer devido à surpresa, diante da evidência de se tratar, de facto, de Dimitri. A sua fantasia, ao ouvir o riso profundo e sonoro, não fora fruto da imaginação. Um homem do passado, do seu passado, estava ali, com os mesmos atractivos sexuais que um dia tanto a tinham cativado. E que a prendiam agora de novo, porque nada mais conseguia fazer do que olhar para ele, entontecida, como uma mulher que nunca na sua vida tivesse estado com um homem.

Ele tinha a pele bronzeada e os olhos negros como o carvão, com espessas pestanas. Engordara, evidentemente, mas não do modo como engordam muitos dos homens maduros: não tinha barriga a espreitar por cima do cinto, nem papada que denotasse um estilo de vida indolente. Não, Dimitri era puro músculo, e tanto as suas calças de linho como a sua camisa de seda realçavam cada tendão do seu corpo. O seu cabelo não era já tão rebelde; além disso, tinha algumas cãs nas frontes. Mas a sua boca continuava exactamente como ela a recordava – e Deus sabe como a recordava ela! – tão carnuda e sensual que parecia ter sido desenhada unicamente para o prazer feminino. No entanto, a grande diferença que não podia esconder residia nos seus olhos: houvera tempos em que brilharam para ela, não com amor, tal como Molly sempre desejara, mas sim com um carinho possessivo e feroz. Naquele momento, esses mesmos olhos tinham o brilho da frieza; nada revelavam e nada esperavam em troca.

Molly inspirou profundamente e apercebeu-se de que tinha os pulmões tão secos como se tivessem sido queimados por dentro.

– Dimitri? – conseguiu proferir. – És mesmo tu?

Ele ergueu as sobrancelhas, em jeito de dúvida; gozava com a inquietação de Molly quase tanto como em observá-la, o que sempre acontecera. Mulheres como Molly Garcia eram pouco comuns. Tinha um corpo quase perfeito, o cabelo loiro claro e os olhos de um azul frio, ainda que ele sempre os tivesse visto ardentes de desejo. Enquanto se concedia tempo para responder a tão desnecessária pergunta, percorreu com a vista o corpo feminino. Continuava igual, mesmo que inevitavelmente tivesse sofrido as mudanças típicas do amadurecimento. Tempos atrás, era tão delgada como um raminho de árvore, tão delgada que, por vezes, ele temia que se partisse enquanto faziam amor. Mas agora possuía as redondas formas de um majestoso ramo. A compleição era ainda delgada; no entanto, os seus seios estavam mais desenvolvidos e tão exuberantes que Dimitri teve de fazer um esforço para aparentar impassibilidade, mantendo no rosto uma treinada expressão de indiferença, mesmo que sobre o seu corpo tivesse menos controle.

– Talvez tenha um irmão gémeo – troçou. – O que é que tu achas?

Uma parte dela tinha esperança de que tudo fosse alguma confusão, apesar de a outra parte desejar que o não fosse. Mas qualquer tipo de dúvida se esfumou logo que ele começou a falar, com aquela voz doce e profunda que ela tão bem recordava.

Molly tinha duas opções: ou ficava ali, a olhá-lo, de boca aberta como um peixe fora de água, ou era ela própria, a mulher de sucesso em que se convertera.

Sorriu, apesar de ter a garganta apertada.

– Santo Deus! – exclamou. – Não posso acreditar!

– Também quase me custa a acreditar – murmurou ele sem, no entanto, deixar de lado a surpresa. O seu olhar pousou nos dedos de Molly. Não tinha aliança. Significaria que não estava comprometida? – Depois de tanto tempo.

Demasiado, pensou ela, mas ainda assim, não o suficiente, pois o tempo deveria tê-la imunizado contra o seu encanto. Por que é que o tempo não fizera o seu trabalho? Por que é que se sentia débil e indefesa frente a um antigo amante grego? Respirou com dificuldade, enquanto a assaltavam recordações do seu corpo nu e do modo como ele a pressionava contra a areia da praia.

– Que raio estás aqui a fazer? – perguntou Molly.

– Mudei-me para cá.

– Porquê?

No entanto, antes que ele pudesse responder, Molly ouviu uma voz, uma voz de mulher, falar em grego. Então, a realidade caiu sobre si. Claro que estaria com ele uma mulher. Provavelmente, também teriam filhos. As grandes casas daquela zona londrina eram alugadas por famílias, e Dimitri, sem sombra de dúvida, trouxera consigo a sua.

Era isso que Molly esperava. Assim sendo, por que lhe doía tanto? Então, ficou atordoada, ao ver a mais formosa rapariga em que pusera os olhos descer as escadas na direcção deles.

Tinha o cabelo comprido, negro e brilhante, e uns seios avultados. As calças e a camisa ressaltavam a figura delgada e juvenil, e deixavam adivinhar umas pernas que pareciam não ter fim. O seu rosto era perfeito, com os olhos negros e uma boca sorridente.

Parecia tão jovem que poderia ser...Molly deixou de sorrir. Ter-se-ia Dimitri convertido num desses que andam com uma mulher tão jovem que poderia ser sua filha?

– Papá.

Era sua filha. Molly pôs-se rapidamente a fazer cálculos de cabeça, enquanto Dimitri respondia em grego à moça. Parecia ter dezassete, talvez dezoito anos, mas isso significaria que Dimitri tinha já uma filha quando a conhecera, o que era impossível. Ou teria ela andado enganada a respeito de muitas coisas?

Rapidamente sentiu que desfalecia e desejou poder desaparecer. Mas não podia. Ali continuou, com cara de parva e uma garrafa de vinho na mão, a ver como o último dos seus sonhos juvenis se desfazia em pedaços à medida que a rapariga se aproximava deles.

Dimitri falou quase de má vontade. Desfrutara com a visão das emoções na cara de Molly, emoções essas que ela tentara a todo o custo dissimular. Na realidade, para um homem como ele, aquela era uma situação única e muito divertida.

– Zoe – disse ele, com um sorriso. – Temos uma visita.

Olhou para Molly com uma expressão de troça. «Agora é a tua vez», parecia dizer-lhe.

Falar pareceu-lhe então ainda mais difícil do que anteriormente.

– Vivo na casa aqui ao lado – afirmou, com rapidez. – Vi-o... vi-os... chegar, e pensei em trazer-lhes isto como presente de boas-vindas. Assim, sejam bem-vindos – concluiu.

Levantou a garrafa com uma careta; a rapariga sorriu e tirou-lha das mãos, ao mesmo tempo que dirigia ao pai um olhar de reprovação.

– Que amável da sua parte – agradeceu, num inglês com um suave sotaque. – Faz favor, quer entrar?

Claro que queria.

– Não, não, a sério.

– Ah, entre, por favor – convidou Dimitri, com voz suave. – Insisto.

Os seus olhos encontraram-se, e foi então que Molly pôde ver todo o divertimento trocista que os dele expressavam. Como é que se atrevia? Será que não tinha nem uma ponta de bom senso? Não se dava conta de que, para ela, conhecer a sua mulher seria, no mínimo, embaraçoso? Ainda que não tivesse motivo para se dar conta disso. Talvez não fosse uma situação assim tão estranha. Quantas mulheres haveria na sua situação, incapazes de esquecer o seu sensual encanto?

Consciencializou-se, então, que não tinha sido apresentada. Talvez tivesse esquecido o seu nome. Nem sequer dissera à filha que se conheciam, o que fazia algum sentido, porque não iria contar-lhe que tinham sido amantes.

Dito desse modo, soava a oco, mesmo que tivesse tido significado. Ou quiçá se tivesse enganado a si mesma ao pensar que o seu primeiro amor tinha sido especial e que somente acabara mal. Mas, quantos anos teria a filha dele? Mesmo que fosse mais jovem do que aparentava, equivalia a supor que Dimitri tinha sido pai exactamente na altura em que ela abandonara a pequena ilha.

Não conseguia pensar com clareza. Talvez fosse por isso que sentia a entrada naquela casa como a entrada na toca do leão. Existiam recordações em que era melhor não mexer, coisas que ela recordava com carinho e que – quem sabe? – só permaneceriam assim se não deixasse que o presente interferisse nelas.

– É muito amável da sua parte, mas acho que tenho de trabalhar – disse, com seriedade.

– Às quatro da tarde? – perguntou Dimitri, após olhar para o caríssimo relógio de pulso. – Trabalha por turnos?

Continuaria a pensar que ela trabalhava como empregada de hotel?

– Trabalho em casa – respondeu Molly, arrependendo-se logo de seguida, pois os negros olhos encheram-se de interesse, fazendo-a sentir-se vulnerável.

– Por favor – disse a rapariga, enquanto esticava o braço. – Deve estar a pensar que somos uns mal-educados. Sou a Zoe Nicharos, e este é o meu pai, Dimitri.

– Molly – apresentou-se ela. Que outra opção tinha? – Molly Garcia.

Apertou a mão de Zoe e depois de a soltar, Dimitri estendeu a sua e estreitou-lhe os dedos contra a palma da sua mão. Aparentemente, não passava de um simples aperto de mão, mas ela sentiu a sua força latente, e um calafrio percorreu-lhe o corpo.

– Prazer, Molly – murmurou ele. – Sou o Dimitri.

Ela estremeceu ao ouvi-lo dizer tais palavras e perguntou a si mesma se ele se teria dado conta do repentino acelerar das batidas do seu coração. Tentou libertar os dedos; porém, ele não os soltou até os olhos de ambos se terem encontrado. Tomou consciência de que era a si que aquilo afectava; Dimitri limitava-se simplesmente a desfrutar da situação, como se não lhe desse importância. Mas, por que haveria de ter importância? Ela devia ter-se sentido satisfeita por ele se recordar dela.

Dessa vez, Molly sorriu com mais naturalidade; estava a melhorar, à custa do empenho.

– Bem, como disse anteriormente, só vim num instante dar-lhes as boas-vindas. Espero que sejam todos muito felizes aqui – respondeu.

Dimitri reparou no ênfase dado à palavra «todos», mas deixou passar. Pensou que a situação iria ser muito interessante.

– Estou certo de que seremos muito felizes – afirmou, com um sorriso suave e intencional. Olhou por um momento para os seios de Molly, desenhados como dois pêssegos sob a camisa azul clara. – É um magnífico lugar – acrescentou.

Ela ficou nervosa, pois há muito tempo que um homem não a olhava daquele modo. Era como se tivesse estado adormecida e só aquele olhar escuro fosse capaz de a despertar. Tinha que se ir embora dali antes que ele se desse conta do que sentia.

– Tenho mesmo de ir – disse.

– Obrigado pelo vinho – respondeu ele, com amabilidade. – Talvez noutra ocasião, quando não estiver tão ocupada com o trabalho, queira vir tomar uma bebida connosco.

– Talvez – concordou ela, ainda que ambos soubessem que mentia.