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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Sandra Myles

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Falco, o protetor, n.º 27 - Março 2014

Título original: Falco: The Dark Guardian

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5058-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Havia pessoas que diziam que Falco Orsini era demasiado rico, demasiado bonito ou demasiado arrogante para o seu próprio bem. Falco teria concordado que era rico e, provavelmente, arrogante. Além disso, se se julgasse o aspeto físico pela quantidade interminável de mulheres bonitas que entravam e saíam da sua cama, também teria tido de admitir que talvez tivesse alguma coisa que atraía as mulheres. Também havia pessoas que o consideravam cruel. Com isso, Falco nunca teria estado de acordo. Não era cruel, mas era sincero. Porque haveria de permitir que um adversário ficasse com um banco investidor importante se podia adquiri-lo? Porque haveria de permitir que um adversário ficasse com a melhor parte de um acordo financeiro se poderia ser ele a fazê-lo? Porque haveria de continuar a fingir interesse por uma mulher se já não sentia nenhum? Falco não era o tipo de homem que fizesse promessas que não tinha intenção de cumprir. Portanto, não era cruel, mas era sincero. E, além disso, estava na flor da vida.

Falco era como os três irmãos, um homem alto. Quase um metro e noventa de altura. Rosto duro. Corpo duro. Um corpo que atraía as mulheres, embora, na verdade, a razão por que Falco o mantinha assim não tivesse nada a ver com a vaidade. Estava em forma como um homem deve estar quando sabe que o seu estado físico pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Já não tinha esse tipo de existência. Pelo menos, com frequência. Ou, pelo menos, não falava disso. Com trinta e dois anos, Falco vivera o que muitos poderiam considerar uma vida interessante. Com dezoito anos, agarrara na sua mochila e percorrera o mundo. Com dezanove anos, alistara-se no exército. Com vinte anos, transformara-se num membro das Forças Especiais. Ao longo desses anos, conseguira reunir uma grande quantidade de créditos universitários, uma grande habilidade para os jogos em que se apostava muito dinheiro e, no fim, uma grande paixão pelo investimento ao mais alto nível.

Vivia segundo as suas próprias regras. Sempre o fizera. As opiniões dos outros não o preocupavam. Acreditava na honra, no dever e na integridade. Os homens que serviam com ele ou que se relacionavam com ele nem sempre tinham uma boa opinião dele. Era muito distante, segundo alguns, mas a maioria respeitava-o tanto como as mulheres o desejavam. Ou odiavam. Não importava. A família era o mais importante. Adorava os irmãos do mesmo modo que eles o adoravam, com uma ferocidade que os transformava numa força formidável nos negócios e em tudo o resto. Além disso, Falco teria dado a vida pelos irmãos que, sem hesitar, fariam o mesmo por ele. Além disso, adorava a mãe, que adorava todos os seus filhos, talvez como só as mães italianas conseguiam fazê-lo. Quanto ao pai...

Quem se importava com o pai? Falco, como os irmãos, distanciara-se de Cesare Orsini há muitos anos. No que se referia à mulher, Cesare era um empresário honrado, dono de algumas das propriedades imobiliárias mais caras da cidade de Nova Iorque. No entanto, os filhos sabiam a verdade. O pai era o chefe de algo a que ele se referia apenas como La Famiglia. Noutras palavras, o que alguns delinquentes como ele tinham criado na Sicília na última metade do século XIX. Nada poderia mudar este facto, nem os fatos Brioni nem a mansão enorme em que vivia em Greenwich Village que, no passado, fora Little Italy. Contudo, pelo bem da mãe, Falco e os irmãos deixavam esse facto de lado e fingiam, mesmo que fosse apenas por um instante, que os Orsini eram apenas uma família enorme e feliz.

Naquele dia, por exemplo. Naquela tarde de outono bonita e ensolarada, Dante acabara de se casar. Falco ainda achava difícil habituar-se à ideia. Primeiro Rafe, depois Dante. Dois irmãos casados. Além disso, Dante não era apenas um marido, também era um pai. Nicolo e Falco tinham passado o dia a sorrir, a beijar as cunhadas e a brincar com Dante e com Rafe. Tinham feito o possível para não se sentir como idiotas por brincar com o sobrinho, algo que, na verdade, não era nada difícil. O menino era o bebé mais bonito e inteligente do mundo. Tinham dançado com as irmãs e tinham tratado não fazer caso às indiretas pouco subtis de Anna e Isabella sobre o facto de terem umas amigas que seriam umas esposas perfeitas para eles.

Ao fim da tarde, ambos estavam mais do que prontos para se ir embora dali e brindar ao seu celibato com umas cervejas bem frias num bar que era propriedade dos quatro irmãos. O estabelecimento chamava-se, simplesmente, The Bar. No entanto, antes de conseguirem chegar à porta, Cesare parou-os. Queria falar com eles. «Outra vez não», pensou Falco, cansado. Olhou para rosto de Nick e soube que o irmão estava a pensar o mesmo. O pai passara meses com o discurso «quando eu morrer...». A combinação do cofre... Os nomes dos advogados e do contabilista. O lugar onde se guardavam papéis importantes. Nenhuma dessas coisas importava aos quatro irmãos. Nenhum deles queria nem um centavo do dinheiro do pai. O instinto de Falco disse-lhe que não devia prestar atenção ao pai e que devia continuar a andar. Em vez disso, olhou para o irmão. Talvez aquele dia tão longo os tivesse deixado de bom humor. Ou talvez fosse o champanhe. Fosse o que fosse, os dois irmãos acabaram por ceder. O pai insistira em falar com os dois por separado. Felipe, o braço direito de Cesare, indicou, com um movimento de cabeça, que Falco devia entrar primeiro. Ele, por um instante, sentiu vontade de agarrar o homem magricela pelo pescoço, levantá-lo do chão e dizer-lhe que era um canalha por ter passado toda a vida a proteger Cesare, mas a celebração familiar ainda estava a ter lugar no pátio envidraçado que havia na parte traseira da casa. Portanto, limitou-se a sorrir de um modo que um homem como Felipe entenderia perfeitamente, passou ao lado dele e entrou no escritório de Cesare. Felipe fechou a porta atrás dele. Falco deu por si submetido a um combate de resistência. O pai estava sentado à secretária. As cortinas estavam corridas e, por isso, a sala enorme parecia ainda mais lúgubre do que de costume. Cesare assentiu e indicou-lhe que se sentasse, gesto que Falco ignorou, para, depois, examinar o conteúdo de uma pasta. Segundo o antigo relógio de mogno, perdido entre os móveis pesados que decoravam a divisão, as pinturas religiosas e fotografias familiares que pendiam das paredes, tinham passado quatro minutos. Falco permaneceu perfeitamente imóvel, com os pés ligeiramente separados e os braços cruzados. Os seus olhos escuros não paravam de olhar para o relógio. O ponteiro ia avançando a pouco e pouco até que, finalmente, deu um salto quase impercetível. Então, Falco descruzou os braços, virou-se e dirigiu-se para a porta.

– Onde vais?

Ciao, pai. Como sempre, foi um prazer.

– Ainda não falámos.

– Falar? Foste tu que me pediste para vir aqui – replicou Falco, virando-se para olhar para o pai. – Se tens alguma coisa para dizer, diz, mas asseguro-te de que ainda me lembro das tuas palavras emotivas da última vez que te vi. Talvez tu não te lembres da minha resposta, portanto, deixa-me recordar-ta. Não quero saber do cofre, dos teus documentos, dos teus interesses empresariais...

– Nesse caso, és um néscio – acusou Cesare, num tom suave. – Tudo isso vale uma fortuna.

– Eu também valho, para o caso de não teres percebido – declarou. Então, o sorriso apagou-se dos lábios. – E, mesmo que não fosse assim, não tocaria em nada teu. Já devias saber.

– Que drama, meu filho!

Questa verità! Quererás dizer que é verdade, pai.

– Está bem. Já fizeste o teu discurso.

– E tu fizeste o teu. Adeus, pai. Direi a Nicolo que...

– O que estavas a fazer em Atenas no mês passado?

– Como?

– É uma pergunta simples. Estavas em Atenas, porquê?

– Que tipo de pergunta é essa?

– Uma muito simples. Perguntei...

– Sei o que me perguntaste – interrompeu Falco, semicerrando os olhos. – Fizeste com que me seguissem?

– Não foi mal-intencionado – defendeu-se Cesare. Então, estendeu a mão para uma caixa de madeira ricamente esculpida. – Charutos cubanos – acrescentou, enquanto abria a caixa para deixar a descoberto uma dúzia de charutos. – Custam um olho da cara. Toma um.

– Explica-te – insistiu Falco, com frieza, sem sequer olhar para a caixa. – Como sabes onde estava?

– Tenho amigos por todo o lado. Tenho a certeza de que isto não é novo para ti.

– Nesse caso, suponho que também saberás que estava em Atenas numa viagem de negócios para a Orsini Brothers Investments – replicou Falco, com ainda mais frieza. – Talvez tenhas ouvido falar de nós, pai. Uma empresa que começámos sem nenhum tipo de ajuda da tua parte.

– Mesmo nestes maus momentos para a economia, conseguimos fazer com que os nossos investidores sejam homens ricos. E fizemo-lo honestamente, um conceito que não penso que tu consigas entender.

– Durante a tua estadia em Atenas, acrescentaste um banco à coleção – elogiou Cesare. – Muito bem.

– Os teus elogios não significam nada para mim.

– No entanto, não trataste apenas de negócios durante a tua estadia lá – comentou ele, suavemente. Levantou o olhar e observou Falco. – As minhas fontes disseram-me que, durante esses mesmos dias, um menino, um rapaz de doze anos, que os insurgentes tinham sequestrado para pedir um resgate nas montanhas do norte da Turquia, pôde regressar milagrosamente para a sua família...

Falco deu a volta à secretária num abrir e fechar de olhos. Agarrou na camisa do pai com uma mão e fê-lo levantar-se muito violentamente.

– O que é isto? – gritou.

– Tira as mãos de cima de mim!

– Não o farei até conseguir algumas respostas. Ninguém me seguiu. Ninguém. Não sei de onde tiraste todas essas tolices, mas...

– Não fui suficientemente estúpido para pensar que alguém podia seguir-te e viver para o contar. Solta-me a camisa e talvez te dê uma resposta. Se não fosses o meu filho...

– Não sou teu filho de nenhuma das maneiras que importa. É preciso mais do que esperma para conseguir fazer com que um homem se torne pai.

– Agora gostas de filosofia? Confia em mim, Falco. Em muitos sentidos, tu és mais meu filho do que o resto dos teus irmãos.

– E o que significa isso?

– Significa que o que tu dizes que odeias em mim também se encontra dentro de ti. A atração pelo poder absoluto. A necessidade de controlar – declarou Cesare, semicerrando os olhos. – A disposição de derramar sangue quando sabes que deve derramar-se.

– Maldito sejas! – exclamou Falco, inclinando-se por cima da secretária para aproximar o seu rosto irado do do pai. – Eu não me pareço em nada contigo! Ouves-me? Nada! Se me parecesse contigo, meu Deus, se me parecesse contigo...

Começou a tremer. Então, afastou-se do pai e ergueu-se. Porque estava a deixar que o pai o levasse para o terreno dele daquela maneira?

– Era disto que querias falar? Dizer-me que encontraste a absolvição para ti próprio dizendo-me que tenho os teus genes e partilho o teu destino? Bem, não vai servir de nada. Eu não sou como tu. E esta discussão não...

Cesare tirou algo da pasta que tinha na secretária e empurrou-o para Falco. Parecia um anúncio arrancado da página de uma revista.

– Conheces esta mulher?

Falco mal olhou para a fotografia.

– Conheço muitas mulheres – declarou, com frieza. – Tenho a certeza de que os teus espiões te terão contado isso.

– Estou a pedir-te para olhares.

E o que importava? Falco pegou no recorte. Era um anúncio de uma coisa muito cara. Perfume. Joias. Roupa... Não sabia. No entanto, estava claro qual era o centro de atenção daquela fotografia. Era a mulher. Estava sentada de lado numa poltrona, com uma perna longa sobre o chão e a outra apoiada sobre o braço da poltrona. O sapato que lhe pendia dos dedos dos pés tinha o tipo de salto que devia declarar-se uma arma letal. O vestido era de renda vermelha. Não sabia bem o que era, apenas que deixava muito a descoberto. Um corpo espetacular. Um rosto igualmente espetacular. Ovalado. Delicado. A essência da feminilidade. Maçãs do rosto altas. Olhos como o âmbar. Pestanas longas e espessas da mesma cor que o cabelo longo e liso. Estava a sorrir para a máquina fotográfica. Para o espetador. Para ele. Sabia que se tratava de uma ilusão deliberada, mas realmente eficaz. O sorriso dela. A inclinação da cabeça e até a postura desafiavam um homem a desejá-la. A ser suficientemente néscio para pensar que podia possuí-la. Aquele sorriso oferecia tanto prazer sexual quanto um homem pudesse desejar numa vida inteira. Algo quente e perigoso percorreu a barriga de Falco.

– E então? Reconhece-la?

– Já te disse que não. Está bem? Já acabámos?

– Chama-se Elle. Elle Bissette. Era modelo. Agora, é atriz.

– Fico feliz por ela.

Cesare tirou alguma coisa da pasta. Outro anúncio? Fosse o que fosse, ofereceu-o a Falco, mas ele não se mexeu.

– O que é isto? Esperas que te diga o nome de pessoas famosas quando tu me mostrares as suas fotografias?

Per favore, Falco. Suplico-te. Olha para a fotografia.

Falco arqueou as sobrancelhas. O pai a suplicar? A pedir um favor? Nunca ouvira aquelas palavras da boca do pai, nem em italiano nem em inglês, nem nenhuma outra expressão que se parecesse. A curiosidade venceu e pegou na fotografia. Sentiu um nó na garganta. Tratava-se da mesma fotografia, mas alguém usara um marcador vermelho para lhe pintar os olhos. Para desenhar uma linha desagradável de pontos de sutura sobre os lábios da mulher. Para marcar uma linha vermelha através do pescoço e pontos vermelhos que lhe caíam até aos seios. Para lhe rodear os seios com um círculo da mesma maneira desagradável.

– A menina Bissette recebeu-o por correio.

– E o que é que a polícia disse?

– Nada. Ela recusa-se a entrar em contacto com eles.

– É uma estúpida se não o comunicar às autoridades.

– Os pais do rapaz turco dirigiram-se a ti e não às autoridades. Temiam procurar ajuda oficial.

– Estamos nos Estados Unidos.

– O medo é o medo, Falco. Não importa onde uma pessoa vive. Ou tem medo ou talvez não confie na polícia. Seja qual for a razão, recusa-se a entrar em contacto com eles. A menina Bissette está a fazer um filme em Hollywood. O produtor é, digamos, um velho amigo meu.

– Ah, agora entendo. O teu colega está preocupado com o seu investimento.

– É óbvio que está preocupado. E precisa da minha ajuda.

– Manda-lhe um pouco do teu dinheiro sujo.

– Não é da minha ajuda económica que precisava. Precisa da minha ajuda para proteger a menina Bissette.

– Tenho a certeza de que os teus gorilas adorarão ir a Los Angeles.

– Vês os meus homens em Beverly Hills? – Cesare deu uma gargalhada.

Falco quase se riu. Tinha de admitir que a ideia era divertida. De repente, tudo encaixou. A conversa sobre o que acontecera na Turquia, a conversa sobre Ellen Bissette...

– Está bem.

– Está bem? – Falco assentiu.

– Conheço alguns tipos que trabalham como guarda-costas para os famosos. Farei umas chamadas e pôr-te-ei em contacto com...

– Já estou em contacto – declarou Cesare, suavemente. – Contigo.

– Comigo? Eu sou um investidor, pai. Não trabalho como guarda-costas.

– Não disseste isso às pessoas que ajudaste na Turquia.

– Isso era diferente. Dirigiram-se a mim e eu fiz o que tinha de fazer.

– Tal como eu me dirijo a ti, figlio mio, e te peço para fazeres o que tens de fazer.

– Se queres nomes e números de telefone, tudo bem. Se não for assim, vou-me embora.

Cesare não respondeu. Falco suspirou e virou-se para a porta. Então, mudou de opinião e decidiu ir-se embora pelas portas que davam para o jardim e que estavam escondidas pelas cortinas pesadas. Dado o seu estado de ânimo, a última coisa que queria era encontrar-se com a mãe ou com as irmãs.

– Espera – pediu o pai. – Leva a pasta. Tudo o que precisas está no interior.

Falco agarrou na pasta. Era mais fácil do que discutir. Quando chegou de táxi a sua casa, já tinha os nomes de quatro homens que poderiam fazer aquele trabalho. No salão do seu lar, serviu-se de um conhaque, pegou na pasta e saiu para o jardim com o telemóvel na mão. Estava prestes a anoitecer. O ar era fresco, mas gostava assim, com o ruído de Manhattan emudecido ao longe. Na pasta não havia nada de muita utilidade. Informação sobre o filme. Uma carta do produtor para Cesare. E as fotografias. A da roupa interior. A que parecia uma ameaça. E outra que o pai não lhe mostrara. Nela, Elle Bissette estava na praia, a olhar para a máquina por cima do ombro. Não havia renda, nem saltos de agulha. Simplesmente, vestia uma t-shirt e calções. Falco pôs as três fotografias numa mesa de vidro e olhou para elas. A foto em que aparecia sensual e misteriosa era muito excitante para qualquer homem. Efetivamente, Falco adorava a renda e os sapatos de salto. Que homem não gostaria? No entanto, era forçada. O sorriso era falso. A mulher que olhava para a máquina não tinha substância alguma. Poderia ter estado a olhar para um milhão de homens. A cópia borrada causava-lhe um nó no estômago. Era uma ameaça direta, muito rudimentar, mas bastante eficaz. A terceira fotografia chegara-lhe ao coração. Era espontânea. Uma fotografia simples de uma mulher bonita a andar pela praia, uma mulher que não precisava de artifício algum para estar bonita. E havia mais do que isso. Sentira que alguém a observava. Falco vigiara muitas pessoas na sua vida anterior e reconhecia o medo nos olhos de quem suspeita que alguém o observa contra a sua vontade. Viu aquele olhar nos olhos de Elle Bissette. No ângulo do queixo dela. No modo como afastava o cabelo do rosto. Cautela. Medo. Temor. E mais. Determinação. Desafio. E uma atitude que, apesar de tudo, era beligerante.

– Bolas! – queixou-se Falco.

Então, agarrou no telemóvel e fez as gestões necessárias para um avião o transportar para a Costa Oeste de manhã.