sab612.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Charlotte Lamb

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Recordação inesquecível, n.º 612 - fevereiro 2020

Título original: The Boss’s Virgin

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-235-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Importas-te de irmos embora? – sussurrou Lucy para Tom, enquanto dançavam.

Era meia-noite. A festa mal começara, mas Lucy sentia-se cansadíssima. Não estava acostumada a deitar-se tarde e Tom também parecia exausto.

Com um sorriso que confirmava as suspeitas dela, Tom assentiu, dizendo:

– Vamos despedir-nos de Leonie.

Eles encontraram-na na cozinha, a preparar canapés.

– Desculpa-nos, Leonie, mas temos de ir – Lucy deu-lhe um beijo.

Elas trabalhavamºs há anos e Lucy admirava-a muito.

– Temos um longo caminho à nossa frente. Foi uma festa adorável e divertimo-nos muito. Obrigada pelo convite.

Leonie abraçou Lucy com carinho.

– Obrigada por terem vindo. A propósito, está tudo pronto para o casamento?

– Até que enfim! – Tom segurou Lucy com mais força. – Parece que planeamos isto há anos. Nem consigo acreditar que vai ser na próxima semana.

Tom era bom em planeamento. Tratara de tudo para o enlace, deixando para Lucy apenas alguns detalhes.

Despedindo-se, então, de Leonie, saíram da festa e lá fora depararam-se com a brisa fresca de uma noite de Primavera. Dando o braço a Tom, Lucy aconchegou-se nele.

Era sábado e o centro de Londres estava cheio de vida, com luzes brilhantes e jovens a divertirem-se nas ruas e nos bares.

Tom não bebera muito na casa de Leonie. Aliás, quase nunca se excedia.

Seguiram pela estrada que levava à zona rural de Essex, onde se localizava o bairro de Whitstall, em que os dois moravam.

Essex fora um pequeno vilarejo com chalés em volta do lago e com uma igreja medieval com a torre de madeira branca. Com o passar dos anos, o lugar cresceu e muitas pessoas optaram pela vida calma do campo e mudaram-se para lá, embora continuassem a trabalhar em Londres, como era o caso de Lucy e Tom.

Tudo começou quando Lucy foi a uma reunião a casa de Tom, num condomínio moderno. Ela apaixonou-se pelo local e então também comprou um chalé nos arredores de Whitstall.

– Chegamos em breve – murmurou Tom.

Lucy bocejou, descontraída, no banco do passageiro, com o vento a brincar nos seus cabelos loiros através da janela aberta. Olhou-o com os seus lindos olhos verdes, ensonados.

– Graças a Deus, pois estou moída! Mas gostei de ter ido lá. Foi óptimo participar da felicidade de Leonie.

– É verdade. Leonie e Andy pareciam radiantes. Ficar noiva fez-lhe bem.

– E a mim, também – Lucy sorriu.

Tom tocou na mão dela. Aquela que tinha o anel de noivado que ele lhe dera, com uma esmeralda rodeada por pequenos brilhantes.

– Alegro-me por te ouvir a falar assim. Isso, sem dúvida, faz-me muito bem. E casar será ainda melhor.

– Sim – finalmente, Lucy faria parte de uma família.

Mal podia esperar.

Não havia mais iluminação, ao seguirem pela estrada estreita e escura da área rural, ladeada por pinheiros.

Lucy pensava no seu vestido de casamento, que em breve estaria pronto. Apesar de estar a ser feito por uma costureira de Whitstall, estava lindo. Era de seda branca, bordado com pequenas pérolas. A imagem da delicadeza. Lucy faria a prova final na manhã seguinte. Só lhe faltava a grinalda. Lucy procurara-a durante semanas, sem sucesso. Então, na sexta-feira, vira uma feita de pérolas com pequenas rosas brancas numa loja especializada, na rua Bond. Entretanto, como o estabelecimento fechara às seis, não pôde comprá-la. Voltaria lá na segunda-feira, à hora de almoço.

Levara meses a planear tudo, pois, sendo órfã e sem parentes, tivera de se arranjar sozinha. Quantas vezes desejara ter uma mãe para a ajudar…

Lucy observou o perfil de Tom. A pálida luz da lua revelava um nariz recto, bonitos cabelos macios e um rosto ainda infantil. Ele era um homem carinhoso e de bom coração. Ela conhecera-o há quatro anos e, quanto mais convivia com Tom, mais o apreciava.

Lucy suspirou. Ainda assim estava indecisa e perturbada. Tom já lhe propusera casamento outras duas vezes, porém Lucy, com toda a gentileza, recusara, porque aquele era um passo muito sério. Significava muito mais do que viverem juntos ou partilharem uma cama.

Ela não tivera um verdadeiro lar quando era menina. Cresceu em orfanatos, sem se sentir parte de alguém ou de algum lugar e invejando outras crianças que tinham pais que as amavam.

Lucy nem sabia quem eram os seus pais. Fora deixada à porta de um hospital, numa noite chuvosa de Primavera. Nunca ninguém apareceu, nem sequer para lhe dar alguma informação sobre as suas raízes. Por consequência, levava os valores familiares muito a sério. Casar-se significava assumir o compromisso de duas pessoas passarem o resto da vida juntos e Lucy não estava certa se poderia encarar aquilo com Tom.

Gostava muito dele, claro. Achava-o atraente, conhecia-o bem. Eles trabalhavam na mesma empresa, em Londres, há quatro anos, e sempre tinham tido uma óptima relação profissional.

Tom era belo e, quando a beijava ou a tocava, Lucy não o repelia. Só não tinham dormido juntos ainda porque Tom não insistira, alegando que queria guardar aquele momento especial para a noite de núpcias. Lucy admirava a integridade de Tom.

Respirou fundo. Ainda assim, faltava algo entre eles. E sabia muito bem o que era aquele ingrediente vital: o amor. Fora honesta com Tom desde o princípio, ao afirmar que gostava dele, mas que não estava apaixonada.

Tom disse-lhe que compreendia e aceitava, mas acreditava que ela começaria a amá-lo assim que se tornasse sua esposa e passassem a partilhar a existência na íntegra. E talvez aquilo acontecesse mesmo. Bem, Lucy esperava que sim.

O automóvel começou a ganhar velocidade. Estavam a chegar ao chalé onde Lucy morava. Tom fez a última curva muito depressa, no exacto instante em que outro carro surgiu na rua estreita e mal iluminada.

Lucy retesou-se no assento, quando os pneus chiaram no asfalto. Tom travou e tentou virar o volante para evitar a colisão, mas já era tarde. Os dois veículos bateram e Lucy foi arremessada para a frente. Teria saído pelo pára-brisas, se não usasse o cinto de segurança e se o airbag não se tivesse aberto.

Tom recuperou-se logo do susto, o suficiente para soltar o seu cinto e abrir a porta.

– Estás bem? – Lucy tremia.

– Acho que sim. Fica aqui.

O outro veículo, um carro desportivo vermelho, estava atravessado do outro lado da via, com a parte dianteira enfiada numa cerca.

«Será que o condutor morreu?», indagou-se Lucy, vendo Tom caminhar em direcção ao automóvel. Mas então a porta do carro abriu-se e um homem alto e magro, muito bem vestido, emergiu.

Lucy estudou-o. O seu corpo tremia devido ao choque e o coração estava disparado.

Os dois homens encararam-se.

– Você magoou-se? – quis Tom saber.

– Apenas algumas escoriações. Mas posso saber o que estava a fazer, a conduzir daquela forma?

Na defensiva, Tom reagiu:

– Porque é que você entrou sem olhar?

– Eu parei antes de entrar. Quando olhei para a esquerda, a estrada estava vazia. Comecei a atravessar e então você apareceu a cem quilómetros por hora, e não pude fazer mais nada.

E era verdade. Tom guiava mesmo muito depressa e deveria ter diminuído a velocidade ao aproximar-se do cruzamento. Fora pura sorte o acidente não ter tido consequências mais sérias. Todos poderiam ter morrido. Tom não argumentou, consciente da culpa.

Dando uma olhada ao automóvel vermelho, indagou:

– Está muito danificado?

Eles mantinham-se em pé, de costas para Lucy, que, abraçada ao seu casaco de veludo preto, não tirava os olhos deles.

Tom inclinou-se para verificar o capot.

– Lamento que esteja todo arranhado aqui.

– Sim. Vai custar-me uma fortuna repará-lo e é novo. E o seu? Foram graves os dano?

O homem de costas largas e pernas compridas estava a dois metros. Quando se virou para verificar o carro de Tom, Lucy viu os seus traços fortes: o nariz imperioso, a boca generosa e bem desenhada e os cabelos curtos e sedosos.

– Você tem um passageiro. Uma mulher? Espero que ela seja sincera, se o caso acabar no tribunal.

– Nada de ofensas, sim? Admito que ia em excesso de velocidade, mas a prioridade era minha. Você vinha de uma rua estreita e deveria ter esperado que eu passasse. Mas pagarei os prejuízos. Não haverá necessidade de ir para tribunal. Entretanto, caso houvesse, a minha noiva seria honesta. Jamais lhe pediria que mentisse.

Um ar de riso deixou claro que o outro não acreditava naquilo.

Tom enfureceu-se. Cerrou os punhos, mas manteve a entoação sob controlo:

– É melhor trocarmos moradas e os nomes das nossas companhias de seguro. A propósito, eu trabalho para a minha. Assim, pode ficar sossegado quanto ao pagamento.

– Vou buscar os meus documentos.

O outro homem entrou no seu veículo e voltou com alguns papéis. Quando ele começou a seguir Tom, Lucy virou a cabeça para o outro lado, escondendo o rosto na gola do casaco.

Ela viu-o a curvar-se para olhar para ela e cerrou as pálpebras, rezando para que ele não conseguisse vê-la bem.

– A sua companheira está ferida? – perguntou ele a Tom, que tirava os documentos do porta-luvas.

– O quê? – Tom olhou para ela. – Estás bem, Lucy?

– Apenas cansada.

Todavia, Lucy ainda sentia que o estranho a examinava, provocando batidas descompassadas do seu coração.

– Eu levo-te para casa o mais depressa possível, querida.

E Tom voltou-se para o outro homem, dando-lhe os documentos. Os dois usaram o capot do veículo de Tom para apontarem as informações de que precisavam.

Lucy pedia aos céus para que ele não falasse com ela.

Se pudesse ao menos fugir dali… Contudo não tinha sequer forças para se erguer.

«Despacha-te, Tom. Não fiques na conversa».

Lucy reconhecia aquela voz tranquila de Tom. Estava a tentar acalmar o outro, valendo-se da técnica que usava nos negócios, todos os dias. Era um especialista em persuadir pessoas a fazerem o que ele queria.

Eles trabalhavam numa companhia seguradora no centro de Londres. Tom era um dos executivos que negociavam com as grandes reclamações. Necessitava de todo o seu tacto e diplomacia para lidar com os requerentes e advogados. E era o que fazia naquele momento.

«Pára de falar, Tom», pensou Lucy, desesperada. «Leva-me embora daqui».

Os dois apertaram as mãos. Até que enfim, tinham chegado a um acordo.

– Boa-noite, senhor Harding. Entrarei em contacto consigo.

Harding disse algo e lançou outro olhar para o carro.

Lucy ficou tensa, porém, ao vê-lo ir na direcção do automóvel desportivo, relaxou. Ele estava de partida.

Tom voltou, a reclamar:

– Foi uma estupidez minha conduzir tão depressa. Mas devemos agradecer pela sorte que tivemos. Poderia ter sido bem pior.

– Poderíamos ter morrido – Lucy mantinha o olhar fixo no homem que deslizava as longas pernas para dentro do seu veículo.

O vento nocturno fazia esvoaçar os abundantes e sedosos cabelos negros dele.

Sim, poderia ter sido muito pior. Desastroso, isso sim. Toda a energia parecia ter deixado o corpo de Lucy, como se a sua alma estivesse a esvair-se. Desejava estar sozinha em sua casa, para pensar e restabelecer-se daquilo tudo.

Tom estacionou à porta do chalé, poucos minutos depois, e virou-se para a beijar.

– Boa-noite, querida. Lamento pelo acidente – franziu o sobrolho. – Tu ficaste muito calada. Estás com raiva de mim?

– Não, de modo algum! Estou cansadíssima, Tom, é só isso.

– E o que aconteceu não ajudou muito, pois não? – fez uma careta. – Dorme bem. Vejo-te segunda-feira.

Lucy saiu do carro, acenou para o noivo e entrou em casa. Antes que fechasse a porta, uma forma preta e peluda roçou a sua canela e correu, com toda a graça, pelo hall até à cozinha.

A gemer, Lucy girou a chave na fechadura.

– Tu és um chato, gato guloso. Quero ir para a cama. Não quero ficar aqui, a dar-te de comer.

Samson ignorou-a. Com o corpo preto e elegante, sentado ao lado do frigorífico, sem dúvida esperava por algum pedacinho do frango que sobrara do jantar que Lucy preparara para Tom, na véspera. Lucy sabia que não teria paz enquanto não cedesse à vontade do animal. Então, colocou frango na tigela de Samson e água fresca no outro recipiente.

O gato pôs-se a comer de imediato, dando-lhe a tão almejada paz.

Lucy subiu para o quarto, vestiu uma camisa de algodão, removeu a maquilhagem e lavou os dentes. Ao espelho da casa de banho, a sua face estava pálida, as pupilas, dilatadas, com um brilho diferente.

«Foi o susto», concluiu, desviando-se depressa.

Voltando para o quarto, deitou-se e apagou a luz.

A casa tinha apenas dois quartos e uma casa de banho. Na parte de baixo, havia uma confortável sala de estar, a cozinha e um cantinho com uma mesa de jantar. A empresa na qual trabalhava ajudara-a na aquisição do imóvel. O preço fora muito baixo, pois tinha inúmeras obras para serem feitas.

A casa pertenceu a um senhor idoso e excêntrico que a herdou do seu pai e nunca fez obras.

Apesar do custo ter sido baixo, o financiamento consumia a maior parte do seu orçamento mensal e, por consequência, Lucy tinha poucas economias. Todavia, apesar de tudo, amava aquele pequeno chalé. Era o seu primeiro lar verdadeiro.

Lucy passara toda a sua infância em orfanatos, sem família, sentindo um grande vazio interior. Sempre sonhara com estabilidade, em pertencer a alguém, ser amada e necessária. E, por fim, conseguira um lugar a que podia chamar seu. Nada pagava aquilo.

Podia não ter roupas caras, maquilhagens de marca nem desfrutar férias paradisíacas. Contudo possuía uma casa própria e isso era o mais importante.

Para minimizar os gastos, ela própria decorara e pintara a casa. Só teve de pagar a um empreiteiro para refazer o telhado e construir uma nova casa de banho.

Quando ela e Tom estivessem casados, morariam ali. Tom ganhara aversão ao condomínio onde morava, por causa das crianças barulhentas que corriam de lá para cá o dia inteiro.

A vida seria mais fácil para eles quando Tom se mudasse para o chalé. Ele pagaria as prestações do financiamento e Lucy a alimentação. Unir os rendimentos seria vantajoso para ambos. Poderiam até viajar no Verão para algum lugar exótico.

Deitada no escuro, a olhar para o tecto, Lucy sorriu com a ideia. Saíra poucas vezes do país e desejava muito aquilo.

Uma imagem viva surgiu na sua mente, trazendo-a de volta à realidade, causando-lhe um arrepio.

O acidente de automóvel, o terrível som dos pneus a derraparem no asfalto, o airbag a insuflar, o carro vermelho enfiado na cerca e o momento em que o condutor saiu.

O seu coração bateu com mais força e Lucy cerrou as pálpebras. Não pensaria mais nisso. Tinha de esquecer.

Oh, porque é que aquilo acontecera? Porquê agora? O destino tinha um estranho sentido de humor. Mais uma semana e seria esposa de Tom. Porque é que o seu noivo batera no carro daquele homem?

 

 

Lucy não conseguiu dormir durante a maior parte da noite. A lembrança voltava a todo o instante. O seu cérebro agia como inimigo e não a deixava esquecer. A cabeça começou a doer-lhe. Ficou a revirar-se no leito, ouvindo o tique-taque do relógio na mesa-de-cabeceira, como uma tortura.

se com os alfinetes, ajustando a parte da cintura.

– Emagreceu novamente!

– Lamento. Juro que não estou a fazer dieta. Não sei porque é que estou a perder peso.

– Isso acontece sempre às noivas. Tensão pré-nupcial e a correria. Não se preocupe.

Enquanto a senhora Ducas ajustava o corpete, Lucy olhava para a sua imagem, com os seus olhos de um raro tom de verde. Tudo parecia surrealista, sem razão. Era ela própria quem estava ali?

E, se parecia estranha a si própria naquele momento, como iria sentir-se dentro de uma semana, após o enlace?

Fitando-a, a senhora Ducas ergueu-se.

– Tenho de ir. Vou tirar-lhe o vestido antes que desça daí, Lucy. Da próxima vez que o vestir, cair-lhe-á na perfeição, prometo. Será uma noiva adorável.

Colocando a roupa com todo o cuidado num cabide, a costureira despediu-se e foi-se embora, deixando Lucy a sós com as suas conjecturas.

Lucy fez mais café e sentou-se a tomá-lo, tentando dispersar aquele humor esquisito.

Dentro de uma semana seria a mulher de Tom. Deveria estar saltitante, andar nas nuvens. Mas porque é que não se sentia feliz? Será que todas as noivas ficavam assim? Com medo e um friozinho no estômago que causava náuseas? Longe de estar satisfeita, Lucy tinha a forte sensação de que estava prestes a cometer o maior erro da sua vida.

Tinha de deixar de pensar naquelas coisas. Encontraria a felicidade ao lado de Tom. Não permitiria deixar-se apanhar pelo negativismo.

 

Lucy foi deitar-se mais cedo e acordou em boa hora para se arranjar. Tom ia cedo buscá-la e esperava que ela estivesse ponta a tempo.

Trabalhar numa companhia de seguros não era excitante, mas o salário era bom e o serviço não era complicado.

Segunda-feira era sempre um dia calmo. A correspondência era pouca e a carga de trabalho, leve. Assim, poderia sair um pouco antes do almoço, ir até à rua Bond e depois comer qualquer coisa, antes de voltar à empresa.

Apanhou um autocarro e depois andou apressada até à loja de noivas. Foi um alívio ver que a grinalda de pérolas e rosas ainda estava na montra.

A empregada sentou-a à frente de um espelho e trouxe o lindo objecto para que experimentasse.

Lucy admirou-se a si mesma e sorriu. Era aquilo mesmo que queria.

– Ficou-lhe muito bem – comentou a vendedora.

– É mesmo o que eu procurava. Vou levar.

Então, o sorriso desapareceu e Lucy arregalou os olhos, horrorizada, quando viu a rua, atrás de si, pelo espelho.

Estava lá um homem parado, a observá-la. Alto, bem vestido, de cabelos negros e brilhantes.

Lucy experimentou um pânico incontrolável e desmaiou.