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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Sara Wood

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Vingança de paixão, n.º 854 - Janeiro 2016

Título original: A Passionate Revenge

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7901-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Diz-me, por que tantos segredos? – perguntou a Vido Pascali a sua assistente pessoal, Camilla Lycett-Brown. – Por que me disseste que não mencionasse o teu nome, em circunstância alguma, na compra da casa? E por que estavas tão interessado nela que até pagaste mais do que custava?

Camilla entrou no carro e tentou perceber por que o seu chefe estava tão tenso.

«Por causa de uma injustiça!», pensou Vido, dando-se conta de que o sangue italiano que corria mas suas veias se amotinara, apesar de ter pai inglês, fosse quem fosse, e de ter vivido na Grã-Bretanha até aos dezoito anos.

Ao atingir a maioridade, Vido fora para Itália, com a sua mãe e, depois, a injustiça açoitara-o e marcara-o.

Aquela ideia perseguia-o com tanta insistência que decidira resolver a situação, para não ficar louco.

– A minha mãe, que Deus tenha a sua alma em descanso, trabalhava aqui – respondeu. – Era a cozinheira da casa.

As lembranças daquela época amontoavam-se na sua mente. Os insultos, a humilhação e a traição.

Vido cerrou os dentes e dedicou um último olhar ao edifício histórico, de estilo isabelino, em Shottery.

Há duas semanas que Stanford House era sua, mas era a primeira vez que ia vê-la, desde que a comprara ao falido George Willoughby.

«Para ti, mamã», dedicou à sua mãe, em silêncio.

Conseguira o primeiro dos seus objectivos. Faltavam mais dois, para poder descansar.

– E? – perguntou Camilla, com astúcia, sabendo que aquele não era o único motivo.

Enquanto perguntava a si mesmo até que ponto poderia abrir-se com ela, Vido conduziu, lentamente, até ao portão de ferro e, ao atravessá-lo, teve que parar o carro, porque tinha as mãos a tremer.

Olhou para trás e viu o edifício iluminado pela luz de princípios de Abril. Era seu! Mal podia acreditar! Aquela casa, símbolo do nível de vida que nunca sonhara alcançar, era sua.

Custava-lhe a respirar, tal era a sua emoção.

Stanford era muito mais importante para ele do que ter conseguido que o seu negócio, em Itália, prosperasse. Era mais importante, até, do que a reputação impressionante que tinha, em Milão, por ser o único homem de negócios a quem as pessoas podiam recorrer quando uma empresa estava à beira da falência.

Aquele triunfo era muito pessoal.

– Despediram-na injustamente – declarou com um tom rude.

O médico confirmara que a encefalomielite miálgica, que acabara com a vida da sua mãe, fora provocada pelo stress causado pelas exigências da família Willoughby.

A sua mãe morrera antes de ele enriquecer e não pudera desfrutar do luxo daquele estilo de vida.

Vido tinha muitas saudades dela e estava decidido a cumprir a promessa que lhe fizera, custasse o que custasse.

– Isso desencadeou uma sucessão de acontecimentos que nos arruinaram a vida – acrescentou. – Foi um inferno. Eu continuei a estudar, mas comecei a trabalhar, à noite, numa fábrica que era do mesmo homem que despediu a minha mãe. Passado algum tempo, também me despediu, acusando-me de roubo, embora soubesse que quem roubou foi a neta dele. Transformaram-me num ladrão sem ter feito nada!

Vido pronunciou a palavra «ladrão» com nojo, incapaz de controlar a aversão que sentia pela vergonha horrível que sentira.

Camilla olhou para ele, estupefacta, pois não conhecia aquele aspecto do seu chefe.

– Quero que me peçam perdão pelo que me fizeram. Prometi à minha mãe que limparia o nosso nome. Quero que Willoughby e a mimada da sua neta paguem pelo que fizeram.

– Tu… não és assim – murmurou Camilla, hesitante.

– Não podes imaginar como me humilharam, Camilla. Como resultado disso, as pessoas começaram a tratar-me como se fosse um leproso… ninguém queria nada comigo – respondeu Vido. – A neta foi inteligente. Assegurou-se que o dinheiro roubado procedesse do fundo que os trabalhadores pouparam para uma excursão.

– O que o levou a culpar-te?

– Ela pôs o dinheiro na minha carteira.

– Porquê?

Vido cerrou os dentes.

– Por vingança. Discutimos, porque ela pensava que eu ia para a cama com outras mulheres enquanto namorava com ela. Além disso, acusou-me de querer casar-me com ela pelo seu dinheiro.

– Evidentemente, isso não era verdade, pois não?

– Eu fiquei tão surpreendido que nem sequer consegui pensar. Agora, podes perceber por que o assunto da casa é tão importante para mim, certo?

– Sim… Era bonita?

Vido recordou Anna com dezasseis anos, as suas pernas altas e a sua sensualidade, que povoara os seus sonhos, de noite.

Também recordou o nariz grande e disforme, que lhe valera a alcunha de «bruxa» desde a creche.

Encolheu os ombros.

– Eu amava-a. Só Deus sabe porquê. Achava-a doce e inocente e fazia-me rir, mas, na verdade, era uma menina mimada sem coração.

Quanto mais pensava nela, mais se enfurecia. A única coisa que o acalmava era a ideia de que, em breve, Anna receberia o seu castigo.

Não sabia onde ela estava, mas encontrá-la-ia e fá-la-ia viver um pesadelo enquanto não conseguisse o que queria dela.

Os seus olhos castanhos brilharam com uma luz especial. Era irónico que Willoughby tivesse perdido a sua fortuna e a sua casa, enquanto que ele, o filho ilegítimo da sua cozinheira, possuísse tanto dinheiro que nem sequer conseguia contá-lo e só tinha vinte e oito anos.

Riu-se com ironia e pôs a cabeça para trás, mostrando os seus dentes brancos, em contraste com o rosto moreno, curtido durante dez anos, pelo sol de Itália.

Camilla sentiu uma pontada de desejo por aquele homem tão bonito e, num abrir e fechar de olhos, agarrou-o pelo queixo e beijou-o.

Vido tentou beijá-la com paixão, mas o seu desejo pelas mulheres continuava a ser anormal. Aquilo também era culpa de Anna. Por culpa dela, não podia amar nenhuma mulher.

Queria desejar Camilla e esforçava-se para o fazer. Aquela mulher era brilhante, divertida e inteligente e Vido queria muito ter uma esposa e filhos, mas…

– Vamos – disse, sentindo-se culpado, ao ver que Camilla assentia, feliz, pensando que a sua reacção se devia à paixão.

Mais uma vez, Vido pôs o carro em andamento, para regressar ao seu escritório, em Londres.

 

 

Anna ajoelhou-se no caminho do jardim e pôs-se a arrancar as ervas daninhas dos canteiros daquele típico jardim inglês.

Não pôde evitar compará-lo com os jardins de Stanford House, a casa onde vivera boa parte da sua vida.

Agora, só tinha aquele jardim pequeno de três metros por dois. Não tinha nada a ver com os hectares que costumava percorrer, quando era uma menina solitária de quem ninguém gostava.

Instintivamente, tocou no nariz, que agora era normal e ajustava-se ao seu rosto.

Sorriu, contente.

Ser feia ensinara-lhe muitas lições. Agora, nunca revelava os seus sentimentos a ninguém. O que acontecera com Vido mostrara-lhe que era melhor assim.

Ao pensar nele, sentiu uma pontada de dor no coração e puxou uma erva daninha com força. De que adiantava abrir velhas feridas?

Amara-o louca, profunda e perdidamente, mas nunca lho dissera, por medo de que ele se risse dela.

Vido era o rapaz mais cobiçado da escola e ela não era mais do que… Como lhe chamavam as suas colegas…? «Feiosa.» Sim, ela não era mais do que uma feiosa.

Ainda assim, Vido beijara-a várias vezes e ela ficara tão radiante que mal pudera acreditar, mas o seu avô e as suas colegas de escola tinham-se encarregado de lhe dizer por que ele a beijara.

Vido era muito ambicioso e ela era uma herdeira rica. Por que outra razão um Adónis olharia para uma rapariga tão feia como ela?

Anna mordeu o lábio inferior ao sentir, mais uma vez, a dor da verdade. Naquele dia, julgara morrer. Naquele dia, não tivera outro remédio senão aceitar que Vido não era mais do que um caça-fortunas sem escrúpulos.

Para ele, ela não passara de um meio para alcançar um fim, mais nada.

Contudo, Vido eram águas passadas.

Anna ia casar-se em breve, e, então, conseguiria esquecer aquela dor e superar a falta de auto-estima de que sempre sofrera.

Peter, o seu noivo, gostava do seu silêncio e do seu carácter reservado. Ele não gostava nada de mulheres emocionais, que expressavam, abertamente, os seus sentimentos.

Anna tivera sorte em encontrar um homem que soubesse apreciar as suas qualidades. Peter era um homem racional e frio, que não lhe inspirava desejos loucos e incontroláveis que a assustassem.

De repente, Anna ouviu uma travagem e um carro a fazer marcha-atrás, mas não lhe prestou atenção.

Stanford House fora vendida, o que provocara um AVC ao seu avô, e ela mudara-se para a casa do caseiro.

A mansão estava situada a algumas centenas de metros da quinta onde nascera Anne Hathaway, a esposa de Shakespeare, e era normal que os turistas parassem diante dela, para a fotografar.

Anna teria gostado que o seu avô tivesse sabido desfrutar do encanto daquela pequena casa de campo, mas ele estava deprimido e furioso e não conseguia assimilar o que denominava de «descer de nível».

Assim, não era de estranhar que tivesse tido um AVC. Deixara de ser um homem de carácter forte e dominante para se transformar num velho deprimido e fraco.

Anna cortou algumas flores para ele, com a esperança de que estivesse melhor da próxima vez que fosse vê-lo.

 

 

Vido ficou a olhar para a mulher que estava de costas para ele. Apesar de terem decorrido dez anos, a cabeleira preta e o corpo bem-feito de Anna permaneciam iguais.

Assim como as suas emoções conflituosas.

O facto de a ver produzia-lhe uma mistura devastadora de desejo e ódio. Ambos os sentimentos se apoderaram do seu corpo e Vido não pôde deixar de se zangar.

Não devia sentir nada por ela, depois de tanto tempo.

– Espiar agricultoras não é o teu estilo – murmurou Camilla, divertida.

Vido respirou fundo, para se acalmar. Por que se derretia por dentro, ao ver aquela mulher? O tempo tê-lo-ia transformado num masoquista ou num pervertido? Seria possível que uma mulher que o desprezava o excitasse?

Ele só queria ser um homem normal, apaixonar-se, casar-se, ter filhos…

– Acho que é Anna – respondeu.

– Ah! Bom, se vais arrasá-la, despacha-te – disse Camilla, tocando-lhe no braço, com carinho.

Vido teve que fazer um esforço sobre-humano para não se afastar e perguntou-se por que tinha uma resposta tão irracional perante um gesto de afecto de Camilla.

– Só quero trocar algumas palavras com ela – declarou.

Fazendo um grande esforço, conseguiu sossegar a voz que dizia, no seu cérebro, que queria muito mais do que aquilo.

O facto de voltar a ver Anna despertara a sua libido. E de que forma! Todas e cada uma das suas células ansiavam por tê-la sob o seu corpo, gritando de prazer.

O bom-senso fê-lo voltar ao normal. Então, lembrou-se que aquela mulher lhe chamara promíscuo e perguntara-lhe, com frieza, se tinha a intenção de espalhar alguma doença sexualmente transmissível entre as mulheres do condado.

Insultara-o e fizera-o parecer um delinquente aos olhos dos outros.

Bolas!

Vido abriu a cancela de madeira branca e aproximou-se de Anna, que não o vira chegar e continuava ajoelhada no seu jardim minúsculo.

Anna levantou-se, de costas para ele, e Vido admirou o seu corpo maravilhoso e recordou que os seus amigos costumavam gozar com ele, dizendo que, se lhe pusesse uma bandeira na cabeça, seria uma rapariga muito bonita.

Anna era uma rapariga muito tímida, que nunca deixara que nenhum rapaz se aproximasse do seu corpo, nem sequer ele.

Impacientando-se consigo mesmo, Vido pensou que devia concentrar-se no que o levara ali.

Anna vivia a poucos quilómetros do lugar onde ele queria estabelecer a sua empresa e isso podia ser perigoso, porque ela poderia arruinar a sua reputação com a sua língua venenosa.

Como se tivesse pressentido a sua presença, Anna virou-se para ele.

– Vido! – exclamou, horrorizada.

Ao vê-lo, Anna recuou e esteve prestes a perder o equilíbrio. Aquele homem irradiava raiva e uma sexualidade primitiva que, ao apoderar-se dela, fê-la ficar sem fôlego.

Continuava a exalar testosterona. Era um macho sedento de sexo, que tratava as mulheres como objectos de prazer.

O medo que sentira, assim que o vira, transformou-se em desprezo.

Vido também olhava para ela, surpreendido, mas por uma razão completamente diferente. Anna fizera uma operação ao nariz e, agora, tinha um rosto tão belo que cortava a respiração.

Estava a olhar para ele com os seus grandes olhos cinzentos e, de repente, tapou o nariz, como costumava fazer, em criança, quando alguém olhava para ela fixamente.

Aquilo fez com que Vido sentisse, novamente, um instinto de protecção que pensava ter esquecido, mas concluiu que, com ela, não valia a pena.

Uma vez, acreditara que era uma pobre menina rica que ninguém amava. Os seus pais tinham morrido e o seu avô não se preocupava com ela.

Ele, sim, amara-a, mas isso fora há muito tempo. Águas passadas não movem moinhos, pensou.

Anna tinha um temperamento frio e distante, assim como o seu avô, que a impedira de ter amigos. Por isso, Vido pensou que, por muito que tivesse mudado por fora, era impossível que tivesse mudado por dentro.

– Anna, que surpresa! – exclamou, com desprezo.

– Sim – respondeu ela, engolindo em seco.

Vido cruzou os braços, numa atitude dominante, e Anna teve que se esforçar para não se sentir intimidada. Porém, teve que se esforçar muito mais para ignorar a onda de bem-estar que a invadiu, ao ver que Vido olhava para ela com aprovação.

As recordações amontoaram-se na sua mente. Algumas eram boas, outras eram más, mas a sua mente só invocava as boas. Vido e ela de mãos dadas, rindo-se, beijando-se… Definitivamente, a companhia de Vido transformara a sua vida solitária.

Anna obrigou-se a recordar a humilhação que a transformara numa leoa furiosa. Ao dar-se conta que era apenas uma eventual fonte de rendimentos para ele, sentira-se humilhada e gozada.

Vido continuava a ser o rapaz loiro de olhos escuros que conquistara o seu coração, mas agora tinha um ar intimidante que a fazia estremecer.

Nervosa, recordou como ele partira, furioso, após discutir com ela, e pensou que era melhor não esquecer o que o seu avô dissera, que Vido não era mais do que um delinquente.

– O que fazes aqui? – perguntou, com frieza.