cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Sara Wood. Todos os direitos reservados.

CASADA COM UM MILIONÁRIO, N.º 820 - Março 2013

Título original: The Greek Millionaire’s Marriage.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2583-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

Dimitri Angelaki pôs as suas pernas poderosas sobre o chão enquanto a sua lancha avançava velozmente para o pequeno porto pesqueiro de Olympos. Começou a cantarolar uma antiga canção de amor grega num tom ligeiramente rouco que reflectia a sua paixão pela vida e pelo amor.

Tinha sido um dia estranho, cheio de contrastes e ansiedade, no qual os seus sentidos se viram completamente saciados, ao mesmo tempo que os seus nervos tinham sido submetidos à máxima tensão.

Voltou a cabeça e deslizou o olhar pelo incrível corpo da sua esposa. A sua pele dourada de deusa parecia cintilar contra o luxuoso acolchoado de couro bege dos assentos. O seu biquíni era mínimo, como ele gostava. Três triângulos minúsculos de tecido azul-turquesa, que quase não ocultavam a essência da sua feminilidade, cobriam o seu corpo esbelto.

A sua respiração agitou-se perante a lembrança do cabelo loiro da sua esposa a deslizar, naquela mesma manhã, pelas partes mais sensíveis do seu corpo, numa dança erótica que o tinha levado ao paraíso e mais além.

A sua boca curvou-se sensualmente ao mesmo tempo que o seu sexo começava a palpitar. Aquele era o prazer de fazer amor com Olivia. Primeiro chegava a antecipação, os olhares ardentes que o enlouqueciam, as mensagens de desejo reflectidas nos seus olhos azuis. Depois, com a mesma certeza com que a noite seguia ao dia, faziam amor sem inibições, sempre abertos à criatividade, sempre ternos e ao mesmo tempo ferozes, até que alcançavam a satisfação intensa que libertava a válvula de vapor da sua paixão mútua.

Aclarou a garganta enquanto voltava a concentrar-se em manter o rumo da lancha. Olivia tinha-o totalmente enfeitiçado e adorava que fosse assim, porque o fazia sentir-se intensamente vivo e muito homem.

Às vezes, queria levantar o punho ao ar depois de fazer amor com ela e gritar «Sim!» como uma criança que acabava de marcar um golo. Sorriu ao pensar naquilo. Ele, um magnata cuja frieza, quando estava submetido à pressão, era conhecida em todo o mundo! Mas os negócios não o excitavam tanto como aqueles encontros deliciosos com a sua esposa. Era uma pena que o seu trabalho o levasse com tanta frequência para fora de casa, e que a sua agenda fosse sempre demasiado ocupada para que valesse a pena que Olivia o acompanhasse.

Mas, desse modo, quando estavam juntos, tudo parecia mais doce. Naquele dia tinham nadado nus no alto-mar. Depois tinham feito amor num bosquezinho de limoeiros cujo aroma embriagador se acrescentou ao prazer que tinham experimentado. A seguir, tinham saciado a sua fome com lagosta e uvas na ladeira de uma colina da qual se avistava um templo dedicado a Afrodite, a deusa do amor.

– Vénus – tinha dito ele. – Uma mera mulher comparada contigo.

Ainda podia sentir o contacto excitante dos dedos de Olivia na sua boca, na sua garganta... e no resto do seu corpo. Tinha sido uma das experiências sensuais mais intensas da sua vida.

Tudo teria sido perfeito... se não fosse a sua crescente preocupação com Athena. Enrugou o sobrolho enquanto rogava para que Athena telefonasse do hospital para lhe dizer que estava bem. A crescente tensão arruinou as lembranças do dia. Mas era compreensível. Amava Athena com todo o seu coração...

 

 

Olivia ficou tensa quando o telemóvel de Dimitri tocou. Tinha tocado demasiadas vezes naquele dia, mas ele tinha-se recusado a desligá-lo.

– Os magnatas gregos precisam de estar em contínuo contacto com os seus assistentes – tinha dito ele com pomposidade simulada, referindo-se a uma brincadeira que estavam acostumados a partilhar.

– Nesse caso, procura um assistente que consiga fazer o seu trabalho – tinha protestado Olivia, mas distraiu-se assim que o seu marido a beijou e começou a acariciá-la.

Mas naquele momento, conseguia ser mais objectiva. A dedicação obsessiva de Dimitri ao trabalho tinha-se convertido num problema. Quando ia de viagem e ela ficava na companhia da sua sogra desagradável, Marina, sentia-se cada vez mais só e infeliz. A sua insegurança e as suas dúvidas em relação aos verdadeiros sentimentos de Dimitri viam-se dolorosamente reforçados pelas insinuações de Marina em relação às longas ausências do seu filho.

Olivia apertou os punhos. Desde que se tinha casado com Dimitri, há seis meses, Marina não tinha deixado de a perseguir.

– Todos os homens gregos têm amantes – estava acostumada a dizer. – E não penso que o meu filho seja uma excepção.

Uma amante. Será que aquilo explicaria a falta de consideração de Dimitri? Mesmo naquele dia de férias, que tinham aproveitado para ir ao antigo teatro grego de Epidauro, viu-se desconcertada pela sua falta de atenção. Suspirou. Poderia ter sido tão romântico... Dimitri tinha-lhe feito uma demonstração da magnífica acústica do teatro sussurrando «amo-te» do palco. Ela tinha conseguido ouvi-lo da fila mais afastada. Encantada, levantou-se para lhe mandar um beijo. Infelizmente, Dimitri tinha recebido outro dos seus telefonemas inoportunos e tinha saído do teatro para o atender.

Olivia recordou como se enfurecera e, zangada, cruzou os braços no luxuoso assento da lancha ao mesmo tempo que lançava um olhar de raiva a Dimitri.

Embora estivesse de costas para ela, reparou como tinha ficado nervoso ao receber o último telefonema. Naquele momento, estava embrenhado numa conversa e ela perguntou-se qual seria o motivo do seu alívio, já que os músculos, que tão bem conhecia, se tinham relaxado. Alguma coisa se passava.

O seu coração encolheu-se. Quase parecia que Dimitri estava a embalar ao telefone e do seu magnífico corpo emanava uma intensa ternura. Uma inquietante sensação de temor apoderou-se dela. Era possível que a sua sogra tivesse razão...

No entanto, Dimitri não conseguia manter as mãos afastadas dela. Desde que tinha começado a trabalhar para ele, como secretária, há dois anos, tinham ficado loucos um pelo outro. Cada vez que, naquela altura, estavam juntos em público viviam uma experiência deliciosamente tensa. Cada segundo a sós tinha sido uma explosão de desejo ardente e de necessidade. A razão não parecia existir e eram apenas capazes de se render à sua paixão vulcânica.

Ao recordar o passado, Olivia sentiu uma excitação imediata e pressionou as pernas para controlar o ardor quente que sentiu entre elas.

Um desejo impotente confundiu a sua mente, e notou que a pressão do sutiã do biquíni se estava a tornar insuportável devido ao repentino inchaço dos seus seios e dos seus mamilos protuberantes.

Centrou a atenção em Dimitri e reparou que se estava a rir. Os seus ombros dourados e nus agitaram-se enquanto murmurava algo íntimo ao telefone.

Sentiu uma sensação intensa de ciúmes. Dimitri era dela! O seu corpo, a sua alma, o seu coração e a sua mente! Imediatamente se sentiu envergonhada pelas suas suspeitas irracionais e, arrependida, aproximou-se dele e abraçou-o pela cintura.

Dimitri sobressaltou-se, murmurou qualquer coisa incompreensível em grego, algo que poderia ter significado «até manhã», embora o grego de Olivia fosse muito limitado, e despediu-se antes de desligar.

Olivia reparou nos batimentos fortes do seu coração sob a palma da mão. «Ter-se-ia assustado?», perguntou-se, alarmada. Teria uma amante? Os seus negócios faziam-no viajar com tanta frequência que podia ter um harém espalhado pelo mundo!

No entanto, quando Dimitri se virou, os seus olhos ardiam de paixão. Rodeou o corpo esbelto de Olivia com um braço enquanto que, com a mão livre, desligava o motor da lancha, antes de lhe tirar a parte superior do biquíni.

Estava magnífico e totalmente excitado. Enquanto desfrutava da sensação da sua dureza, Olivia não pôde evitar perguntar-se se se devia a ela ou à mulher com quem acabava de falar.

– Quem era? – perguntou num tom sombrio.

Dimitri beijou-a no pescoço antes de responder com voz rouca.

– Um amigo.

Olivia reparou que tinha baixado o olhar ao responder.

– Conheço-o? – perguntou num tom desembaraçado.

Dimitri quase não hesitou, mas foi o suficiente para que Olivia suspeitasse que ia ser directo na sua resposta.

– Não. Esquece, querida. Concentra-te no que tenciono fazer contigo...

Olivia fechou os lábios, nervosa, mas ele entreabriu-os com a sua língua. A magia tentadora dos seus dedos, enquanto lhe soltava os laços das cuecas, fê-la esquecer-se de tudo. A maravilhosa rendição do seu corpo começou. Dimitri começou a sussurrar-lhe e a descrever-lhe o que pensava fazer-lhe enquanto a deitava sobre a coberta.

Olivia tirou os calções do seu marido. Sob as suas mãos ávidas, os músculos dos glúteos de Dimitri retesaram-se e ela acariciou amorosamente as suas curvas firmes.

Como amante, o seu marido era insaciável. Às vezes, a perseverança do seu desejo surpreendia-a, mas também não lhe ficava atrás. E havia ocasiões, como aquela, em que a ternura de Dimitri e o seu desejo de lhe dar prazer a comoviam intensamente.

Olivia começou a perder o controlo quando o seu marido deslizou uma mão entre as suas pernas para acariciar o centro húmido do seu desejo. Amava-a, pensou aturdida, enquanto uma onda de desejo percorria o seu corpo. Caso contrário, por que se teria casado com ela?

 

 

Naquela tarde, enquanto o sol se punha, Olivia, Dimitri e Marina, a mãe deste, que tinha enviuvado há pouco tempo, tomavam um café grego forte, no terraço da mansão que dava para a baía de Olympos.

Marina tinha uma expressão amargurada desde que o seu filho e a sua nora tinham chegado a casa, abraçados. O coração de Olivia ficou angustiado ao vê-la. Não era fácil conviver com uma sogra hostil! Mas tinha consciência de como Marina se sentia sozinha desde que o seu marido tinha morrido. Ela própria tinha experimentado aquele tipo de solidão quando os seus pais morreram num acidente de carro.

Num gesto amistoso, apoiou uma mão no braço da sua sogra, mas esta retirou-o imediatamente ao mesmo tempo que lhe dedicava um olhar de receio.

– Que pôr-do-sol tão maravilhoso – disse Olivia, disposta a continuar a mostrar-se afectuosa, apesar de tudo.

– É sempre maravilhoso – replicou Marina com aspereza. – Suponho que a manhã também me deixarão sozinha, não é? Segundo me lembro, iam às compras a Atenas...

– Ah! – Dimitri levou uma mão à cabeça como se, de repente, se tivesse lembrado de alguma coisa.

Olivia soube imediatamente que ia cancelar aquela viagem. Ia ser a terceira vez que isso acontecia e o seu marido tinha prometido não voltar a decepcioná-la.

– Não me digas que surgiu um novo problema no trabalho! – protestou, e pareceu-lhe que Dimitri ficava um pouco nervoso.

– Tenho uma reunião que não posso cancelar. E depois voo para Tóquio. Vou lá ficar uma semana. Lamento muito. Prometo compensar-te depois – sorriu levianamente, como se estivesse a pensar noutra coisa.

– Não sou uma criança a quem possas acalmar com qualquer coisa – disse Olivia, magoada.

– Não, mas esta reunião é importante – Dimitri levantou-se. – De facto, tenho que fazer uns telefonemas agora mesmo para...

– Assistentes... – murmurou Olivia, corada.

Dimitri parou quando já ia a sair. Estava desejoso de telefonar a Athena para comprovar se tinham passado as dores de parto falsas e não gostou do tom ressentido da sua esposa.

Voltou-se para ela e dedicou-lhe um olhar demorado. Olivia não compreendia. Tinha tudo: dinheiro, um marido, segurança... No entanto, a pobre Athena não tinha quase nada, embora ele se assegurasse para que ela não vivesse com privações. Ele mesmo tinha conhecido a pobreza e o medo, e não o desejava a ninguém. Quando nascesse, o filho de Athena levaria o sangue dos Angelaki e, embora não o tivesse prometido ao seu pai pouco antes de falecer, estava totalmente disposto a ocupar-se de proteger tanto a mãe como a criança.

Athena tinha sido capaz de dar a Theo o amor e o carinho que não tinha no seu casamento. Dimitri tinha sido testemunha de como o seu pai tinha sido feliz com a sua jovem amante e, embora com sentimentos contraditórios, ficou contente por ele. Mas continuaria a fazer todos os possíveis para evitar que a sua mãe descobrisse a verdade humilhante. Era uma questão de honra... e de respeito pelos sentimentos da sua mãe.

Estava preocupado com Athena e com o apoio e segurança de que necessitava naquele momento. Por isso mesmo, irritou-o a aparente insatisfação de Olivia com a sua vida.

– Lembra-te de que é graças ao meu trabalho que usufruis de todas as vantagens da minha fortuna – replicou antes de sair, sem ocultar o seu aborrecimento.

Furiosa, Olivia esforçou-se por manter a compostura enquanto bebia o seu café. Amava Dimitri, não os seus milhões. Até se decidir a casar sempre tinha trabalhado e sempre tinha mantido a sua mente ocupada. Pela primeira vez na sua vida estava a experimentar o que era o aborrecimento. Os dias passavam e ela passava-os à espera que Dimitri voltasse para casa.

Aquilo não era saudável. Não era de estranhar que se precipitasse sobre ele cada vez que regressava de uma das suas viagens. O seu grego não era suficientemente bom para lhe permitir conseguir um trabalho... embora, de qualquer forma, Dimitri não lhe tivesse permitido trabalhar.

A sua mãe dirigia a casa e os jardineiros ocupavam-se do jardim, de maneira que tudo o que Olivia podia fazer era viajar e ir às compras... e desejar o regresso de Dimitri.

Sem dúvida, o paraíso tinha as suas desvantagens. Contemplou, sem nenhuma ilusão, as magníficas vistas que se ofereciam ao seu olhar enquanto o sol desaparecia atrás da linha do horizonte. Sentiu vontade de chorar e, de repente, desejou estar em casa com os seus amigos.

– Querida! – exclamou Marina com ironia. – A vossa primeira discussão!

– Dimitri e eu somos pessoas apaixonadas – explicou Olivia com frieza.

– O meu filho não gosta que as mulheres discutam com ele.

– Já sabia como eu era quando se casou comigo. Trabalhámos e dormimos juntos durante dois anos. Dimitri gosta da minha independência. Adora que eu o enfrente.

– Pode ser que sim – murmurou Marina. – No entanto, agora que és sua esposa, ele espera a tua obediência.

– Pode esperar o que quiser – disse Olivia num tom lento.

– Então suponho que não estranharás que procure alguém mais delicado e complacente. Por exemplo, uma amante. Suponho que é com ela com quem está a falar agora.

– Uma amante? Asseguro-te que Dimitri não teria energias para se ocupar de outra mulher – replicou Olivia com estranha franqueza, magoada pela maldade de Marina.

A sua sogra franziu os lábios num gesto de desaprovação.

– O meu filho é mais homem do que possas imaginar. Se quiseres, posso dar-te os seus dados. Penso que se chama Athena. Podes comprová-lo por ti mesma.

Olivia sentiu um calafrio. Marina tinha dito aquilo com tal segurança... «Não, por favor», pensou. De repente, sentiu uma necessidade imperiosa de se afastar daquela mulher. Levantou-se.

– Vou deitar-me. Boa noite.

Tremendo de apreensão, foi para o quarto, onde encontrou Dimitri deitado na cama, rindo-se e murmurando ao seu telemóvel. Assim que a viu desligou a chamada, e Olivia sentiu que estava prestes a desvanecer-se.

Olharam um para o outro durante um momento, como se fossem dois oponentes ferozes. Olivia captou um laivo de decepção na expressão do seu marido enquanto descia da cama para passar junto a ela.

– Onde vais? – perguntou, e odiou-se por soar como a típica esposa irritante.

– Sair.

– A esta hora? – Olivia esteve prestes a esbofetear-se, mas naquele momento compreendeu por que as esposas ficavam assim. Não confiavam nos seus maridos, e com razão, infelizmente.

Dimitri contemplou a boca trémula da sua esposa e esteve prestes a dizer-lhe a verdade, mas conteve-se.

– A esta hora – replicou, e saiu antes que a sua firmeza se desmoronasse.

Olivia permaneceu no meio do quarto luxuoso, consciente de todas as posses e riquezas às quais tinha acedido ao casar-se com Dimitri. No entanto, sentia uma sensação angustiosa de despojo, de depressão.

A riqueza e as posses não eram nada sem o amor do seu marido. Se ele não a amava, então não tinha nada. Baixou o olhar para as suas mãos trémulas. O brilhante do seu anel de noivado cintilou como se troçasse dela, e os diamantes do seu colar pesaram-lhe de repente como as correntes de um escravo.

Era uma esposa. Uma posse. E, segundo a cerimónia do seu casamento, supunha-se que devia respeitar reverencialmente o seu marido.

Franziu o sobrolho ao recordar que, segundo a mesma cerimónia, o seu marido devia amá-la como se fosse o seu próprio corpo. Muito bem. Ou a amava ou não a amava. Não ia permitir que a utilizasse exclusivamente como seu objecto sexual, ou como um meio para perpetuar o seu apelido enquanto ele se divertia por aí. Momentos como aquele eram decisivos. Ou as pessoas se deixavam afundar ou sobreviviam, e ela nunca tinha sido das que se deixavam afundar.

A sua boca endureceu-se. Se Dimitri tinha uma amante, então decidiria abandoná-lo. Não pensava partilhá-lo com nenhuma mulher. No dia seguinte, engoliria o seu orgulho e pediria os dados da tal mulher a Marina.

Nenhum homem ia troçar dela. Nenhum homem ia usá-la para saciar o seu apetite sexual. Era melhor viver sem Dimitri do que daquele modo.

Quando voltou o rosto e se viu reflectida no espelho do toucador, compreendeu a arrepiante gravidade da situação em que se encontrava. No dia seguinte, àquela hora, podia encontrar-se num avião a caminho de Inglaterra.

Capítulo 1

 

A última vez que tinha estado em Atenas tinha sido há três anos. Três intermináveis anos tinham passado desde que tinha deixado Dimitri após destroçar o seu quarto num arrebatamento de raiva impotente que quase não serviu para acalmar a sua dor.

O seu marido tinha-a enganado. Tinha-o visto com os seus próprios olhos. Marina tinha-a levado até uma pequena povoação próxima de Micenas, bem a tempo de testemunhar a ternura com que Dimitri acompanhava a sua amante ao seu carro.

A sua amante grávida. Por um momento, ficou tão emocionada que deixou de respirar. Não havia dúvida de que a mulher parecia estar quase de parto. Aquilo, e o carinho que Dimitri mostrava ao tratá-la, foi o que mais lhe doeu. Teria preferido encontrá-los nus a fazer amor.

– Agora já acreditas em mim? – perguntou Marina.

Enquanto se afastavam, Olivia soube que nunca poderia perdoar Dimitri.

Quando chegaram a casa, uma Marina encantada recordou-lhe que Dimitri devia estar prestes a partir para Tóquio.

– Vai para tua casa – acrescentou. – Volta para as pessoas que te amam.

– Sim – sussurrou Olivia. – Preciso dos meus amigos.

A sua nota para Dimitri foi breve mas sentida.

 

Quando num casamento não há amor, não vale a pena continuar.

 

Apesar de tudo, não conseguiu evitar que uma parte de si mesma desejasse que o seu casamento pudesse salvar-se. Por isso, tinha-se agarrado à possibilidade de Dimitri decidir procurá-la em Inglaterra para se desculpar e lhe pedir que o perdoasse.

Mas ele não entrou em contacto com ela. Foi como se alguém tivesse apagado uma luz no interior de Olivia. Os outros homens pareciam meros fantasmas comparados com Dimitri. Inglaterra era mais cinzenta do que se lembrava, como a sua vida em geral. Mas tinha que seguir em diante, e o primeiro passo era o divórcio.

– Como te sentes? – perguntou Paul Hughes, o seu advogado, ao mesmo tempo que pegava solicitamente na sua mão.

Olivia retirou-a com o pretexto de afastar uma madeixa de cabelo da sua testa.

– Pronta para a batalha.

– No próximo mês poderás ser uma das mulheres mais ricas e poderosas da Europa.

Dinheiro e poder. Era o que preocupava os homens? Por que não punham o amor em primeiro lugar, como as mulheres?

Olivia apoiou-se contra as costas do assento enquanto alisava uma ruga imaginária da sua saia. A sua mão tremia e contemplou a nuca do motorista enquanto recordava o momento em que o seu amor por Dimitri se tinha desfeito em pedaços.

 

 

No seu iate, atracado no porto de Pireu, Dimitri comunicava com os seus assistentes, espalhados pelo mundo, através do correio electrónico. Os negócios corriam bem, coisa que não era de estranhar, pois durante os últimos três anos tinha trabalhado uma média de dezoito horas diárias.

Incapaz de se concentrar, levantou-se e olhou para o seu relógio com impaciência. Ela estaria ali dentro de dez minutos.

Ela não tinha abandonado a sua mente desde o telefonema que tinham trocado. Não se esquecia do aroma do seu corpo, do olhar dos seus olhos quando o abraçava para apanhá-lo na sua rede de seda.

– Quero o divórcio – tinha-lhe dito com frieza, há dois dias.