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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Sara Wood

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Casamento arranjado, n.º 745 - Outubro 2014

Título original: Husband by Arrangement

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5907-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Maddy não conseguia esperar mais. Tinha de espreitar. Desesperada, afastou a mão da amiga.

– Deixa-me ver! – suplicou.

– Um pouco de paciência – riu Debbie. – Só um pouco mais de brilho nos lábios... já está! Pronta?

Maddy assentiu, sentindo a boca seca. Muita coisa dependia daquele resultado. Rodou a cadeira, mirou-se ao espelho e viu a imagem de uma pessoa completamente diferente

– Oh, céus! – exclamou com espanto.

Em vez de escandaloso, como julgara, o cabelo de cor acobreada realçava a sua tez pálida e dava aos seus grandes olhos cinzentos um brilho cor de fogo travesso. Abriu a boca de pasmo e o espelho devolveu-lhe o trejeito de uns lábios cor de papoila, com ar de serem beijados quarenta vezes por dia.

Sorriu com ironia. Já há algum tempo que a única pessoa que a beijava era o seu avô: na bochecha, para lhe dar as boas-noites. O seu querido avô não acreditava em demonstrações de afecto, mas gostava dela; e por isso insistia em que se casasse com o neto do antigo sócio que tinha tido em Portugal. E por isso o disfarce: era uma tentativa desesperada para parecer totalmente desadequada como futura esposa de Dexter Fitzgerald. Poucas horas mais tarde voltaria a um país que tinha deixado quase vinte anos antes.

– É um pouco... demasiado – disse Maddy em dúvida, observando a imagem atrevida no espelho.

– Claro. Senão, como vais conseguir que te corram do plano? Disseste que os Fitzgerald eram conservadores. Confia em mim. Ficarão horrorizados.

Maddy esboçou um sorriso, começando a sentir-se animada.

– É muito possível! – concedeu.

– Agora tens de aprender a andar de maneira insinuante – ordenou Debbie. – Assim.

Maddy, animada pela sua intrépida amiga, levantou-se e seguiu-a, exagerando o bambolear das ancas, até ter a sensação de se ir desmontar.

– É demasiado ridículo! – protestou, deixando-se cair sobre a cama da amiga com um ataque de riso.

– Nunca conseguiria caminhar assim, em público.

– Tens de exagerar para resultar. Por isso comprámos a roupa mais ordinária da loja de beneficência – Debbie ficou séria.

– Não tens alternativa. Há anos que o teu avô te pressiona; está decidido a que cases com esse tal Dexter. Isto gorará os seus planos.

– Ele só quer dar-me segurança – defendeu-o ela com lealdade. – Acha que, nos meus trinta anos, eu já não tenho remédio. Que estou parada desde que acabei o jardim-escola – suspirou. – É compreensível. É velho, está doente e preocupa-o o meu futuro quando ele morrer.

– Eu, no teu lugar, diria ao meu avô para não se meter na minha vida – contestou Debbie. Sorriu e abraçou a amiga. – O problema é que és tão amável e carinhosa que não o queres magoar. Por isso agora, supostamente submissa, estás prestes a voltar a Portugal para te encontrares com o teu noivo prometido e...

– Portar-me como uma desavergonhada caçadora de fortunas, para o desanimar! – riu Maddy, pestanejando descarada.

– Fantástico! Consegues fazê-lo! – gritou Debbie.

– Olha para ti! – animou-a, levando Maddy de novo até ao espelho.

Maddy compôs o alarmante decote da sua blusa e pensou na afectada e conservadora avó de Dex. Sofia não suportaria que uma vampira interesseira fosse a futura esposa de Dex; e, do que se lembrava, também ele desejaria uma esposa dócil e bem vestida, e não uma mulher frívola e de andar insinuante. Ela ia enfrentar a maior representação da sua vida. Quando tentara dizer ao seu avô que não lhe interessavam os seus planos de casamento, ele quase sofrera uma apoplexia. Não tivera outro remédio senão fingir aceitar que aceitava, para lhe evitar outro enfarte. Inspirou bem fundo.

– Então ajuda-me, Debs – pediu, decidida. – Diz-me o que devo fazer.

Juntas, treinaram como ela se devia comportar de forma sensual, descarada e segura. Deram uma caminhada pela rua, provocando muitos olhares lascivos. Entre risos, Maddy descobriu que depois de ouvir alguns piropos começava a ganhar confiança.

Tinha-se transformado numa dessas mulheres que os homens queriam conquistar! Nela era anti-natural, mas estava disposta a agir como uma sedutora durante algum tempo. Toda a gente entenderia que ela não era de todo a melhor escolha para esposa de um Fitzgerald. As ideias casamenteiras do seu avô e da aristocrática Sofia ficariam em águas de bacalhau.

– Procura esquecer a tua doçura habitual. Agora és uma interesseira – avisou Debbie, no caminho para o aeroporto.

– Dex vai odiar – reflectiu Maddy. – Só o vi quando fez oito anos e o mandaram para um colégio interno em Inglaterra. Eu só tinha quatro anos, mas lembro-me que era muito distante, quase um recluso...

– Com óculos grossos e magro como um espeto – acrescentou Debbie.

– Tenho a certeza de que é muito agradável... – disse Debbie enquanto retorcia uma ponta de cabelo – ...mas nunca me casaria com alguém que não amasse.

O seu marido teria de ser um homem muito compreensivo. Alguém a quem não importasse que ela não pudesse ter filhos. Ela tinha aceitado a ideia há algum tempo: uma infecção tinha acabado com a sua hipótese de ser mãe, mas dentro de si continuava a sentir dor e desânimo. Interrogou-se se haveria algum homem disposto a casar com ela, sabendo que ela nunca lhe daria um filho.

– A verdade é que és muito dura, mas quem não te conhece fica com a impressão de seres calada e submissa – comentou Debbie com admiração. – Não sei como suportaste ser a cozinheira e aia do teu avô durante tantos anos. Ele é um pouco tirano, não é?

– Precisava de mim – disse Maddy. – E aprendia a calar-me e a tomar conta de tudo quando o negócio que tínhamos começado aqui fracassou e perdemos tudo.

– Deve ter sido horrível para ti.

– Foi pior para ele – Maddy recordou como foi difícil para o seu avô ser pobre. Os Fitzgerald tinham-lhe dado uma grande quantia de dinheiro em troca das suas acções num viveiro em Portugal; mas as dívidas tinham-lho levado todo. – Quem me dera que o avô não estivesse tão ressentido com a família Fitzgerald! – suspirou. – Acha que metade da herança de Dexter devia ser minha. Por isso está tão empenhado em que nos casemos.

– E porque acha isso? – perguntou Debbie surpreendida.

– Culpa a família pelo acidente de carro em que morreram os meus pais e os de Dex – explicou ela com tristeza. – Partilhávamos todos uma grande casa de lavoura em Portugal. Pelos vistos a mãe de Dex atirou-se para os braços do meu pai. Segundo diz o avô, se não o tivesse feito não tinha sofrido o acidente. Seríamos ricos, os nossos pais estariam vivos e continuaríamos em Portugal.

– Há que esquecer o passado – assegurou Debbie.

– Tens de pensar no futuro. Não te esqueças: faz o teu papel. Faz coisas que sejam socialmente inaceitáveis.

– Sorver a sopa, por exemplo? – sugeriu Maddy.

– Perfeito. Ou dança o can-can sobre a mesa. Ou come com as mãos. Qualquer coisa. Mas regressa solteira!

Maddy saiu do carro com cuidado, tentando manter o equilíbrio sobre os seus dourados tacões-agulha. Dois homens correram a ajudá-la com a bagagem e ela sorriu-lhes esplendorosamente.

– Vai em frente – disse a sua amiga piscando-lhe um olho e abraçando-a. – Começa a função! Diverte-te.

– É o que farei – respondeu Maddy, excitada. Primeiro acabaria com os planos de casamento, depois exigiria que os Fitzgerald lhe contassem a sua versão do trágico acidente. O seu avô tinha-se negado a explicar-lhe porque razão o seu pai tinha fugido com a mãe de Dex sem se despedir. Tinha de haver uma boa razão e ela queria descobri-la.

Pela primeira vez tinha a maravilhosa sensação de estar a pegar nas rédeas da sua vida. Os seus olhos brilharam. Fez um gesto de despedida à sua amiga, deixou que um dos homens lhe transportasse a bagagem e seguiu-o, abanando as ancas apertadas numa saia de couro.

Começava uma grande aventura e pretendia desfrutá-la...

Capítulo 2

 

Dexter estivera tão ocupado que chegou ao aeroporto sujo e sem se arranjar. Entediado, esperou enquanto saíam os passageiros do voo de Londres, sem reparar nos olhares de admiração das mulheres. A sua mente estava noutro sítio: nas ruínas chamuscadas da Quinta que tinha sido o lar dos Fitzgerald. Não desejava estar ali, nem sequer queria estar naquele país.

Viu uma mulher gordinha, mal vestida e com ar tímido e levantou o seu cartaz com resignação. A mulher olhou, animada, o nome escrito a marcador: Maddy Cook. Com ar de desilusão, prosseguiu caminho.

Pouco depois deixaram de sair passageiros. Pelos vistos, Maddy tinha decidido não ir ao Algarve. Sentiu um tal alívio que teria começado a cantar se não estivesse estafado e sem vontade para celebrações.

Mesmo quando resolvera ir, chamou-lhe a atenção um grupo de ruidosos homens que saíam a rir da alfândega. Eram jogadores de uma equipa de rugby, com o treinador, fãs, e além disso, uma atraente mascote.

A cabeça cor de cobre da mascote subia e baixava, quase invisível entre a massa de braços musculosos e mãos gigantescas. Mas Dex tinha visto o seu deslumbrante sorriso e as suas fantásticas pernas. Pela primeira vez em toda a semana, esboçou um sorriso ténue...

– Eh, miúda, aqui está o teu comité de boas-vindas! – gritou um dos gigantes, apontando para ele.

Dex deu a volta, esperando ver nas suas costas um grupo de gigantes com camisolas às riscas. Mas não estava ali ninguém. Voltou a cabeça e viu que o grupo se abria, deixando a mascote à vista, em toda a sua glória. Apesar da sua pressa, deteve-se, assombrado pela visão.

Ela era como uma borboleta exótica, brilhante e iridescente. Não era o seu tipo de mulher, sem dúvida. Mas a sua exuberância e o seu belo rosto foram como uma carícia que lhe levantou um pouco o ânimo. Bateu as pestanas ao ver que a borboleta se aproximava; os seus olhos cor de fumo olhavam com interesse para o cartaz que ele ainda tinha na mão. Sentiu a boca secar. Não podia ser. Tinha a figura e a personalizada trocadas...

– Olá – disse ela. – Sou a Maddy. É o meu chauffeur?

Ele olhou-a, boquiaberto. Era impossível que fosse a Maddy! Era verdade que ali estavam aqueles enormes olhos cinzentos, brilhantes em vez de apreensivos e prestes a chorar, como ele os recordava. A boca também lhe parecia vagamente familiar, mas as delicadas maçãs do rosto e o nariz não se pareciam nada com os traços arredondados e infantis de que se lembrava.

– É o meu motorista? – insistiu ela com um sorriso extremamente doce, falando pausadamente e gesticulando.

– Hum – balbuciou ele, perguntando-se como era possível que uma menina baixinha, gordinha e nervosa se tivesse transformado nessa mulher segura e explosiva.

– Oh, então – ela abanou a cabeça com incerteza. – Nem sequer fazes ideia do que digo, certo? Há muito que não falo português. Falas Inglês? – perguntou ela com uma pronúncia impecável.

Ele considerava-se imune à surpresa. Tinha viajado por todo o mundo, e tinha passado por tudo: assombro, dor e medo. Um braço e várias costelas partidas e uma mordida de cobra. Dois romances apaixonados e um maravilhoso, embora curto, casamento; a sua esposa tinha morrido de febre dengue antes de dar à luz o seu filho. Cerrou os lábios, afastando a dolorosa recordação. Pensou na gordinha e pequena Maddy e a transformação parecia-lhe incrível. Passou uma mão pelo queixo sem reparar, distraído.

– Inglês. Sim... – conseguiu dizer. Ela concordou com a cabeça, aliviada, e voltou junto dos jogadores de rugby, sem se aperceber da confusão de Dexter. Ele, boquiaberto, fez um esforço para não deixar cair o queixo.

Obviamente, não o tinha reconhecido. Tinha mudado muito desde a adolescência e pensou que isso podia ser uma vantagem. Ocorreu-lhe a ideia de manter a sua identidade em segredo.

Tinha esperado encontrar-se com a mulher mais aborrecida e deprimente do Mundo; ao fim e ao cabo, Maddy tinha sido educada por um avô tirano, com quem ainda vivia. Para suportar isso, devia ser uma mulher submissa e obediente. Tinha deduzido que ela concordara com os planos de casamento por medo ao seu avô; ou seja, estava convencido de que ela era uma mulher-capacho. Sem sombra de dúvida que a Maddy que tinha à sua frente era a típica mulher capaz de usar os outros como capachos.

Não fazia sentido.

Analisou a sua figura e estilo. Era espectacular e atrevida. Confuso, inspirou profundamente uma golfada de ar. Sem dúvida, não era uma neta tímida que seguia as ordens do velho Cook. Essa mulher sabia exactamente o que fazia.

Estreitou os olhos. Isso significava que queria casar-se com o herdeiro dos Fitzgerald. Era uma mercenária! Decidiu clarificar as coisas o mais depressa possível. Tinha concordado em ir buscá-la ao aeroporto porque a sua avó não o deixava em paz; pelos vistos tinha remorsos na consciência, agora que o velho Cook estava doente e Maddy podia acabar na miséria quando ele morresse.

Dex estava demasiado ocupado para prestar atenção a uma mulher. Estava convencido de que a sua avó esqueceria o seu desejo de o casar quando visse como era desadequada para ele a tímida e insípida Maddy; e quando lhe deixara claro que não tinha qualquer interesse na sua suposta futura esposa.

Divertido, compreendeu que Maddy não era ideal exactamente pelo contrário! Essa mulherzinha sedutora, que deixaria louco qualquer homem, horrorizaria a sua avó. Relaxou; continuaria livre, e isso era um grande alívio.

Assombrado, viu como os homens se inclinavam para beijar Maddy, escondendo o seu esbelto e sensual corpo atrás dos seus enormes músculos. Um atrás do outro, beijaram-lhe a face e houve promessas se encontros: ela iria ao jogo, eles convidavam-na para jantar. Depois desapareceram, deixando atrás de si um rasto de testosterona e odor corporal.

Maddy correu até junto dele, com olhos que brilhavam como diamantes. Dex quase sorriu, contagiado pelo seu entusiasmo.

– Espero que não se importe – desculpou-se ela. – Tinha de me despedir. Foram muito simpáticos durante o voo. Lamento que tenha tido de esperar muito – disse arrependida, esboçando um sorriso amigável. Tinha o cabelo desalinhado e transparecia uma tal aura de sensualidade que parecia acabada de sair de uma orgia.

Dexter tentou manter o sobrolho franzido mas estava a ser difícil.

Sentia-se como se um pequeno raio de luz tivesse iluminado a escuridão da sua alma. Mas não podia permitir-se distracções, tinha na cabeça coisas mais importantes.

– Já me ia embora – mastigou as palavras, com a voz rouca do fumo e do pó entre que havia trabalhado todo o dia. Lembrou-se do que lhe tinha ocupado a mente e o corpo durante a última semana: a destruição da casa de família. Apertou os lábios e o seu rosto escureceu. Estava impaciente por voltar e continuar a trabalhar.

– Oh, vá lá. Parece aborrecido! Mas a culpa não foi minha. Fui revistada! – gemeu ela com os olhos cinzentos muito abertos e perplexos. – Toda a minha bagagem, e quase a mim! Ouvi histórias sobre o que fazem, e assustei-me de verdade. Dê-me a opinião: tenho aspecto de drogada? – perguntou, indignada.

Enjoado com a sua conversa, olhou-a de cima abaixo.

Vestia um corpete dourado que parecia estar a lutar com uns seios que tudo faziam para escapar e, por desgraça, pareciam prestes a ganhar a batalha. Dexter compreendeu horrorizado que o seu corpo começava a ferver e que o seu sangue estava sem controlo. Fez uma careta. Há muito tempo que não se interessava por uma mulher e desejou que as suas hormonas não tivessem escolhido aquele momento para se porem em acção.

O certo era que as curvas da sua figura o deixavam sem alento. Isso para não falar da justa e curta saia de couro e das esbeltas pernas que pareciam não acabar. Notou uma coceira entre as suas pernas que o irritou ainda mais. Respondeu à pergunta encolhendo os ombros com cinismo, supondo que os guardas alfandegários a tinham revistado apenas para regalarem a vista por uns minutos.

– Talvez pensassem que tinha tomado anfetaminas. Ou algum estimulante – sugeriu-lhe.

– Os únicos estimulantes que tomei nas últimas vinte e quatro horas foram café e vida – disse ela; soltou uma risada e abriu os braços. – E isso chega-me e sobra-me!

– Vamos? – gaguejou ele, perguntando-se porque estava ela tão contente.

– Embora! – Maddy observou-o, pestanejando, fazendo o possível por flertar. – Seria amoroso ao ponto de me empurrar o carro da bagagem? Desvia-se para a esquerda quando quero ir para a direita, e bato nas pessoas. Alguns gostam, outros não, e prefiro não incomodar – dirigiu-lhe um sorriso resplandecente. – Parece-me suficientemente forte para o controlar – quase ronronou.

Ele apertou os lábios. Aquela era a típica táctica feminina que odiava: adular o macho, manipulá-lo e esvaziar a sua conta bancária. Tinha conhecido muitas mulheres dessas. Apesar de tudo, ela continuava a ganhar; tinha-lhe acelerado a pulsação ao constatar o seu olhar de admiração.

Despeitado, agarrou o carro da bagagem. Sobre as malas viu um livro intitulado Como Caçar Um Homem; sob o arrepiante título lia-se E Conseguir Que Case Consigo. Sentiu um espasmo de horror e o interesse que tinha sentido por Maddy desvaneceu-se.

– Por aqui – grunhiu, desejando libertar-se quanto antes daquela ameaça contra a sua liberdade.

– Bem. Leve-me ao seu chefe – sorriu ela. – Estou morta por o conhecer!

Ele conteve um rugido. Maddy seguiu-o com descaramento. Dexter deu-se conta de que ela paralisava o aeroporto a cada passo que dava. Todos a olhavam e murmuravam: os homens com luxúria, as mulheres com admiração e inveja. Ela, indiferente, continuava a andar como se fosse Marilyn Monroe em O Pecado Mora ao Lado.

Sub-repticiamente, Dexter passou um dedo pelo colarinho da camisa, pensando que a temperatura tinha subido uns quantos graus desde a chegada dela.

– Sabe? É um pouco parecido com Dexter – aventurou-se Maddy. Ele ficou tenso e ela, pensando tê-lo ofendido com a comparação, continuou rapidamente. – Só um pouco, nos olhos. Duvido que ele esteja tão..., bem, tão forte como você. Trabalha para os Fitzgerald? – atirou, cravando os olhos nas manchas de cinza que cruzavam o seu peito. Dexter deduziu que ela estava sem fôlego por ele ir demasiado depressa.

– Hum – murmurou, considerando a possibilidade de simular ser outra pessoa. Fez um esforço para diminuir a marcha.

– Não me disse o seu nome – animou-o ela.

– Não.

Ela esperou, mas ele não deu mais explicações.

Queria manter o mínimo de conversa. Era a única maneira de preservar a sua dignidade e de não começar a uivar como um cão com cio.

Olhou Maddy de relance e ela pareceu-lhe menos vivaz do que antes, embora estivesse certo de que não era nada relacionado consigo. Uma mulher tão segura de si não se incomodaria por um motorista com uma camisola manchada de cinza e calças de ganga rotas ter sido grosseiro com ela.

O pessimismo voltou a invadi-lo. Estava sujo porque trabalhava dia e noite; comia e, às vezes, até dormia nas ruínas fumegantes da Quinta. Cada vez que fechava os olhos via madeira carbonizada e terra chamuscada. A sua mente só pensava nas mil e uma coisas que devia fazer. Quando dormia, sonhava com incêndios que consumiam bosques; ao despertar, as imagens de desolação tornavam-se realidade. As consequências do acidente e o impacto que tiveram na sua vida oprimiam-no. Tinha tido de regressar a Portugal, milhares de plantas valiosas tinham desaparecido, e sabia que era a única pessoa capacitada para voltara a pôr em marcha o negócio do viveiro de plantas.

O incêndio tinha devorado milhares de acres de eucaliptos, arrasando a quinta residencial do século XVIII no seu trajecto. A sua avó, consternada, tinha-lhe pedido que voltasse do Brasil para reconstruir das cinzas a quinta e os viveiros. Claro que tinha acedido. Embora tivessem tido alguns confrontos, a sua avó era uma anciã e precisava dele.

Mas sentia-se encurralado. Não gostava muito de viagens. Gostava era de procurar plantas novas, conseguir vistos para as reproduzir e recolher sementes, organizar a produção e a distribuição. Era uma vida livre e independente; a vida que tinha escolhido quando a sua adorada mãe o abandonou para se ir com o pai de Maddy, Jim Cook, e o seu lar se tornou frio e desagradável.

Destroçado de dor depois do horrível acidente que tinha acabado com a vida dos seus pais e os de Maddy, voltou costas a tudo o que tinha amado. Nunca desvalorizou o seu pai, um homem machista e autoritário, que não tinha escondido que o seu filho míope e reservado o decepcionava. Sem dúvida que a sua mãe gostava dele pelo seu bom coração e pela sua paixão pelas plantas. Até que Jim Cook se apaixonou por ela.

Se não fosse pelo incêndio, não teria regressado; a sua avó não o estaria a pressionar para que tivesse um herdeiro; e não teria de se esquivar à mercenária filha do homem que tinha seduzido a sua mãe...

O pensamento era demasiado doloroso. Sentiu uma pontada de ira, apertou a mandíbula e os seus olhos brilharam com ódio. A última pessoa do mundo com que se casaria seria a filha de Jim Cook. Mesmo antes de ir conhecê-la, tinha decidido fazer com que se sentisse a mais. E sabia como o fazer. Quando acabasse de a «tratar», Maddy estaria a desejar voltar ao aeroporto para regressar a casa.

Não ia casar-se com um membro da família Cook, e muito menos com uma caçadora de fortunas. Na verdade, não pensava voltar a casar jamais.