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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2010 Liz Fielding. Todos os direitos reservados.
MAIS DO QUE UM ACORDO, N.º 1254 - Janeiro 2011
Título original: SOS: Convenient Husband Required Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer seme
lhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.
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I.S.B.N.: 978-84-671-9554-5
Editor responsável: Luis Pugni

E-pub x Publidisa

Inhalt

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Volta

Capítulo 1

May Coleridge fixou o seu olhar perdido no homem sentado do outro lado da mesa, tentando compreender o que acabava de lhe dizer.

O testamento do seu avô era muito claro. Para além de algumas doações a obras de caridade, tinha deixado todos os bens ao único familiar: ela.

Os impostos sucessórios levariam tudo, incluindo a casa. Sempre soubera que isso aconteceria. Coleridge House fora o único lar que tinha tido e agora, devido a uma cláusula centenária, estava prestes a perder tudo.

– Não entendo – disse, admitindo finalmente a derrota. – Porque é que não me disseste isto quando leste o testamento do meu avô?

– Como deves saber – explicou-lhe Freddie Jennings, com pomposidade exagerada, – o meu tio-avô ocupou-se dos assuntos legais do teu avô até se ter reformado. O seu último testamento foi redigido depois da morte da tua mãe...

– Foi há trinta anos! – protestou.

– Acredita em mim – disse ele, encolhendo os ombros. – Surpreendi-me tanto como tu quando soube.

– Duvido. Os Jennings foram os advogados da família Coleridge durante gerações – disse ela. – Como poderias não saber disto?

Incomodado, Freddie remexeu-se na cadeira.

– Alguns dos arquivos dos Coleridge estragaram-se durante as inundações de há alguns anos. Foi ao iniciar o processo testamentário que descobri esta condição curiosa no testamento.

May sentia-se como se estivesse a andar em areias movediças. Tinha tentado acreditar que tudo aquilo era um engano, mas, aparentemente, estava enganada.

Tudo o que conhecia, tudo o que amava ia ser-lhe retirado...

– A última vez que esta condição foi aplicada foi quando o teu bisavô morreu em 1944 – continuou Freddie, como se aquele detalhe tivesse importância.

– O teu avô deve ter tido conhecimento dela então.

– Em 1944 o meu avô era um rapaz de catorze anos, que acabava de perder o seu pai – disse, prestes a perder a compostura ao dar-se conta da tentativa de Freddie de justificar a sua incompetência. – E, dado que se casou aos vinte e três, isso não deve ter sido um problema.

E a doença que o tinha incapacitado provocara grandes lacunas nas suas lembranças e não tinha podido adverti-la. Engoliu o nó que tinha na garganta, tentando evitar que lhe caíssem as lágrimas.

– Naquela época, as pessoas casavam-se muito mais novas – acrescentou.

– Naquela época, não havia alternativa.

– Não...

A sua mãe tinha-se unido ao movimento feminista. Tinha pertencido a uma das primeiras gerações de mulheres a abandonar os ditados da sociedade patriarcal e a escolher o seu próprio caminho. A maternidade sem os inconvenientes de um marido tinha sido o título de um dos muitos artigos que tinha escrito sobre a matéria.

No entanto, ela tinha tido outras prioridades.

– Tens de admitir que é estranho, Freddie. Posso impugná-lo?

– Terei de pedir a opinião da administração, mas, mesmo que vás a tribunal, há um problema.

– Acho que ambos estamos de acordo que tenho um problema.

Ele ficou pensativo e May limitou-se a abanar a cabeça.

– Não há nenhuma dúvida de que esta restrição para herdar teve de ser explicada ao teu avô cada vez que refez o testamento: depois do seu casamento, do nascimento da tua mãe, da morte da tua avó... Podia ter feito alguma coisa para retirar a restrição nessa altura, mas decidiu mantê-la.

– Porquê? Porque é que o fez? Freddie encolheu os ombros.

– Talvez porque era uma tradição familiar. Eu tê-lo-ia aconselhado a retirá-la, mas o meu tio-avô e o teu avô eram de outra época. Viam as coisas de maneira diferente.

– Mesmo assim...

– Teve três oportunidades para retirar esta condição e o Estado alegaria que a sua intenção era deixá-la como estava. Poderíamos alegar que, se não tivesse tido o AVC, se se tivesse apercebido da situação em que te encontravas, o teria alterado – disse Freddie, numa tentativa de a consolar.

– Se não tivesse o derrame, agora estaria casada com Michael Linton – replicou.

«Convenientemente casada», como costumava dizer o seu avô. Não como a sua mãe...

– Lamento, May. A única coisa que posso garantir-te é que, fosse como fosse, os custos seriam elevados e, como sabes, não há dinheiro na herança que possa cobri-los.

– Disseste-me que, de qualquer forma, vou perder a casa.

– Os únicos que ganham sempre numa situação como esta são os advogados – admitiu. – Felizmente, com a venda do mobiliário da casa conseguirás o suficiente para, uma vez pago o imposto sucessório, comprar um apartamento ou inclusive uma casa pequena.

– Querem os impostos e a casa?

– As duas coisas são separadas.

Ela abanou a cabeça, incapaz de acreditar que aquilo estava a acontecer.

– Se fosse parar a uma instituição de solidariedade, compreenderia, mas que a minha casa acabe nas mãos do Estado...

– O teu antepassado outorgou o testamento no início do século XIX. O país estava em guerra e ele era um patriota.

– Vá lá, por favor! Não passava de uma maneira de chantagear o seu filho mulherengo, de conseguir que assentasse a cabeça e tivesse filhos.

– Talvez. Mas foi acrescentada uma condição para se ser proprietário e nunca ninguém a pôs em questão. Ainda há tempo, May. Talvez te cases.

– Estás a pedir-me em casamento?

– Infelizmente, a bigamia não é legal. Não estás a imaginar-te com ninguém? – perguntou, esperançado. Ela abanou a cabeça. Apenas tinha havido um homem que acendera o fogo do seu coração e do seu corpo.

– Entre cuidar do meu avô e dirigir o meu negócio, receio que não tenha tido muito tempo para sair com alguém – respondeu. – Bom, conheço Jed Atkins, que cuida do meu jardim de vez em quando. Mas tem mais de setenta anos e teria de enfrentar uma dura concorrência.

– Concorrência?

– Pelo que sei, é muito solicitado pelas senhoras do clube.

May começou a rir-se. Aquela situação parecia irreal.

– May, acho que é melhor levar-te a casa.

– Suponho que não tenhas nenhum cliente disposto a casar-se por conveniência e a viver no campo, pois não? – perguntou, enquanto Freddie a acompanhava para fora do seu escritório, receando que ficasse histérica a qualquer momento.

Mas não precisava de se preocupar. Era uma Coleridge. Mary Louise Coleridge, da dinastia Coleridge, educada para servir a sua comunidade e manter a compostura em todas as situações. Não ia ficar histérica só porque Freddie Jennings lhe dissera que estava prestes a perder tudo.

– Se estiveres disposta a procurar um marido – disse, enquanto lhe segurava a porta do carro, – certifica-te de que assine um acordo pré-nupcial ou terás de lhe pagar um dinheirão para te desfazeres dele.

– Habitua-te à ideia de que é uma questão perdida – disse e, dando um passo atrás, prosseguiu: – De facto, prefiro voltar para casa a pé. Preciso de apanhar ar fresco.

Freddy disse qualquer coisa, mas ela já partira. Precisava de estar sozinha e de pensar. Sem Coleridge House, não só perderia o seu lar, mas também o seu sustento. Tal como Harriet Robson, a mulher que tinha sido a governanta do seu avô durante mais de trinta anos e o mais próximo de uma mãe que tinha conhecido.

Teria de procurar um emprego e um sítio onde vi-ver. Ou de arranjar um marido.

Comprou o jornal para ler os anúncios de oferta de emprego e de venda de imóveis. Que ironia! Não havia empregos para uma mulher que, prestes a fazer trinta anos, não tinha formação. E o preço das moradias em Maybridge estava nos píncaros. Os anúncios de procura de parceiro ocupavam uma secção ampla. Com uma casa valiosa como incentivo, um marido pa-recia a opção mais simples. Mas, a três semanas do seu aniversário, seria uma tarefa muito difícil.

Adam Wavell desviou o olhar da menina que dormia no carrinho cor-de-rosa para o bilhete que tinha nas mãos.

Desculpa. Devia ter-te falado de Nancie, mas ter-te-ias zangado comigo...

Zangado com ela! Claro que se teria zangado com ela!

– Algum problema?

– Nem me digas nada!

Pela primeira vez desde que contratara Jake Edwards como seu assistente pessoal, arrependia-se de não ter escolhido uma das mulheres que tinham con-corrido. Qualquer uma delas já estaria a tratar da criança. Encarregar-se-ia dela e deixá-lo-ia continuar a dirigir a sua empresa.

– A minha irmã está com problemas.

– Não sabia que tinhas uma irmã.

Não. Esforçara-se por manter a sua família afastada.

– Chama-se Saffy e vive em França.

Provavelmente, estaria a viver da renda que recebia ao subarrendar o apartamento que lhe tinha arrendado em Paris, uma vez que não lhe tinha pedido dinheiro, pelo menos, ainda.

Aparentemente, tinha ido viver com o pai da bebé, uma relação que decidira esconder-lhe.

Falavam muito poucas vezes e, quando se sentia encurralada pelas suas perguntas, desligava o telefone. Era a vida dela e, desde que a visse feliz, não bisbilhotaria. Com vinte e nove anos, seria suficientemente madura para ter deixado para trás os seus anos loucos e ter assentado a cabeça. «É evidente», pensou, enquanto relia a carta, «que estive a enganar-me a mim mesmo».

Meti-me num problema muito grande, Adam...

Problemas. Nada de novo. A sua irmã era uma especialista.

A família de Michel investigou-me. Descobriram todos os problemas que tive na minha juventude, os roubos a lojas, as drogas e estão a usá-los para o virarem contra mim. Conseguiu uma ordem judicial para impedir que tirasse Nancie de França e vai tirar-ma...

Não. Aquilo não era correcto. Estava limpa há anos. Ou continuaria a enganar-se a si mesmo?

Um amigo ajudou-nos a fugir de França, mas não posso esconder-me com um bebé, portanto, vou deixá-la contigo...

Fugir de França e ignorar uma ordem judicial, para além de privar um pai de estar com o seu filho. Quantos crimes implicaria tudo aquilo? Agora, estava prestes a ver-se envolvido.

Estava sentado na sua sala de reuniões, a discutir os últimos detalhes do maior contrato da sua carreira, e, de repente, a sua vida era sabotada pela sua família e não era a primeira vez.

Vou desaparecer durante uma temporada...

Não era de estranhar. A sua irmã mais nova tornara-se perita em fugas e em deixar que os outros resolvessem as situações. Tinha deixado os estudos, tinha fugido e tinha abusado das drogas e do álcool, numa tentativa desesperada de deixar tudo para trás. Tinha seguido o exemplo dos seus pais inúteis, piorando uma situação má.

Tinha pensado que, finalmente, a sua irmã tinha saído daquele buraco e que começava a desfrutar de pequenos sucessos como modelo. Mas, aparentemente, estava enganado.

Faças o que fizeres, não contactes uma agência de amas. Pedir-te-ão todo o tipo de informação e, quando estiver registada, o pai de Nancie poderá dar com ela...

Mas quem era o pai daquela menina? A sua irmã estaria em perigo?

O seu aborrecimento e frustração deram lugar a um sentimento de culpa. Tinha de a encontrar e resolver aquilo, mas, ao ver a bebé a agitar-se, apercebeu-se de que tinha um problema mais urgente.

Saffy tinha conseguido trazer a menina até ao seu escritório sem que ninguém se desse conta. A sua prioridade era tirar a bebé do edifício, antes que começasse a chorar e a história da sua família andasse na boca de toda a gente.

– Queres que contacte uma agência? – perguntou Jake.

– Uma agência?

– Para arranjares uma ama.

– Sim... Não...

Mesmo que os medos de Saffy não passassem de uma neurose infundada, não tinha onde instalar uma ama. O seu quarto nem sequer estava separado do resto do seu apartamento, era uma divisão a que se acedia através de uma escada de caracol.

«Não é um lugar para um bebé», pensou, enquanto fixava o olhar no pós-escrito da carta de Saffy.

Fala com May. Ela ajudar-te-á.

Tinha sublinhado aquelas palavras duas vezes: «May Coleridge.»

Amachucou o papel na mão. Não falava com May Coleridge desde os dezoito anos. Na escola, Saffy e ela andavam na mesma turma e, embora não fosse amigas íntimas, já que as pessoas como os Wavell não era bem-vindas em Coleridge House, tinha havido uma certa ligação entre elas que nunca tinha conseguido entender.

Claro que, provavelmente, seria o que as pessoas pensavam da sua relação com May. Inclusive nos eventos sociais em que se tinham encontrado cara a cara, não existira contacto visual entre eles, apenas educação fria.

– Há alguma coisa que possa fazer?

Ninguém podia fazer nada. A sua família era, como sempre tinha sido, um problema, mas era um assunto que queria afastado do trabalho.

– Continua a tratar das questões que surgiram na reunião, Jake.

Olhou para o papel amachucado que tinha na mão, dobrou-o e guardou-o no bolso da camisa. Depois, tirou o casaco das costas da cadeira.

– Mantém-me informado se surgir algum problema. Vou para casa.

Foi um gato que afastou May dos seus pensamentos.

A sua primeira reacção perante a notícia de que estava prestes a perder a sua casa tinha sido voltar para lá. Não conseguia acreditar no facto de que, sendo o último membro vivo da sua família, ia perder tudo: o seu lar, a sua empresa e o seu futuro.

Mesmo assim, não podia perder tempo. Tinha que reorganizar a sua vida. Tinha de pôr fim ao negócio a que tinha chegado por acaso e ao qual se dedicara durante os últimos anos, até o tornar uma coisa própria.

O pior de tudo era que teria de o contar a Robbie. Também a Patsy e ao resto das mulheres que trabalhavam algumas horas por semana na limpeza e na cozinha, e que precisavam daquele dinheiro.

Não podia permitir-se perder tempo a lamentar-se. Só faltava um mês para o seu aniversário.

Até ao dia anterior, o seu aniversário não a tinha preocupado. Nunca entendera porque havia pessoas que queriam parar a idade nos vinte e nove anos.

A caminho de casa, antes de ter chegado ao último banco do parque, as suas pernas tinham começado a tremer e tivera de parar. Dali via-se o lago que, em tempos, tinha feito parte dos terrenos de Coleridge House.

Tinha sido incapaz de reunir forças para continuar. Era um lugar protegido e ensolarado, e, apesar de se estar no início de Novembro, o dia era quente. E, enquanto permanecesse sentada naquele banco do parque, continuaria a ser a menina Mary Louise Coleridge, de Coleridge House, alguém a quem respeitar.

O seu lugar na sociedade da cidade e os convites para participar em obras de caridade faziam parte da sua vida. Analisando-o com frieza, era evidente que não era a ela que queriam, mas ao nome Coleridge, para dar gabarito aos projectos. Ninguém bateria à sua porta quando não tivesse uma sala grande onde fazer as suas reuniões, seguidas de uma boa refeição. Coleridge House era uma casa grande, com um jardim enorme onde podia desfrutar dos seus eventos.

Foi um miado triste que finalmente a afastou dos seus pensamentos. Demorou alguns segundos a localizar o gato no ramo de uma árvore afastada do caminho.

– Como foste parar aí?

Dado que a única resposta que obteve foi um miado mais desesperado, levantou-se e aproximou-se.

– Vá, tu consegues fazê-lo... – disse, esperando que o gato voltasse para trás e descesse do ramo.

Olhou à sua volta, esperando encontrar alguém suficientemente alto para o tirar dali, mas não havia ninguém à vista. Finalmente, quando se apercebeu de que não podia fazer outra coisa, tirou o casaco e os sapatos, e, desviando-se de uma poça, agarrou-se ao ramo, procurou onde apoiar o pé e subiu.

Adam saiu do edifício pelo elevador privado que levava ao estacionamento. Arrependia-se de ter vindo a pé para o escritório, aproveitando a temperatura agradável. Esperava apanhar um táxi antes de chegar à esquina, mas, ao não ver nenhum por ali, atravessou a rua para o parque. Era um caminho um pouco mais longo para regressar a casa, mas tinha a garantia de não ver ninguém conhecido.

Completamente alheio à beleza da manhã outonal, empurrava o carrinho com uma mão, enquanto com a outra telefonava a todas as pessoas que pudessem ter uma pista sobre onde estaria Saffy.

A sua primeira reacção depois de ter descoberto Nancie fora telefonar para o telemóvel da sua mãe, mas estava desligado. Tinha-lhe deixado uma mensagem no atendedor de chamadas, pedindo-lhe que lhe telefonasse, embora não tivesse muita esperança de que o fizesse.

Dez minutos mais tarde, a única coisa de que tinha a certeza era de que não sabia nada. Os novos inquilinos do apartamento, o agente dela, já ex-agente, e inclusive a antiga companheira de apartamento não tinham ideia de onde estaria ela ou Michel.

Ficou a olhar para a bebé. Embora o passeio de carrinho tivesse conseguido que voltasse a adormecer, tinha a certeza de que, em breve, começaria a chorar, pedindo comida ou uma mudança de fraldas.

«Pede ajuda a May. Ela ajudar-te-á.»

Diante dele, as chaminés altas de tijolo vermelho de Coleridge House sobressaíam entre as árvores. Durante anos, tinha evitado passar por aquela zona do parque para não passar perto da casa. A simples visão daquelas chaminés incomodava-o. Hoje em dia, podia tratar os Coleridge de igual para igual, mas o desagrado continuava lá. Não conseguia parar de pensar na ideia de lhe pedir ajuda, já que a única coisa de que tinha a certeza era que May Coleridge não faria perguntas. Ela conhecia Saffy e conhecia-o a ele.

Telefonou para as Informações para conseguir o seu número, mas não estava na lista telefónica. Não o surpreendia e talvez fosse melhor.

Tinha passado muito tempo desde que lhe levava animais feridos para que os tratasse e sabia que seria incapaz de lhe dizer que não na cara. Especialmente, se lhe pusesse Nancie nos braços.

«Não está muito alto», pensou May, enquanto punha o pé na árvore.

A única coisa que tinha de fazer era segurar-se com força ao ramo e gatinhar por ele.

Era fácil dizê-lo enquanto estava a salvo no chão. De pé, junto da árvore, parecia não ser difícil. O importante era não olhar para baixo e manter o olhar fixo no seu objectivo.

– O que raios estás a fazer aí em cima, Rato?

O seu joelho escorregou e rasgou as meias, enquanto se perguntava como poderia piorar mais o seu dia. Pelo menos, tinha a sorte de não ter de olhar para baixo para saber quem estava ali. Só conhecia uma pessoa que lhe chamava «Rato».

– O que achas que estou a fazer? – perguntou, entredentes. – A apreciar a vista?

– Daí de cima consegue ver-se o castelo Melchester – respondeu, como se falasse a sério. – Embora tenhas de olhar mais para a tua esquerda.

Já tinha demasiados problemas para virar a cabeça. Nunca tinha gostado de alturas, algo de que só se lembrava quando já estava demasiado longe do chão para mudar de ideias.

– Porque não sobes e mo indicas?

– Fá-lo-ia com todo o prazer, mas não acredito que esse ramo conseguisse aguentar com os dois.

Tinha razão. Rangia com cada tentativa que fazia de se aproximar do gato. Desde muito jovem, dera-se conta de que nenhum homem acudiria em seu auxílio, já que não era suficientemente loira, magra ou bonita. Portanto, tinha aprendido a desenvencilhar-se sozinha.

Arriscava-se sem pensar nas consequências, o que lhe tinha valido a alcunha de «Rato», ideia de Adam Wavell, quando ela era apenas uma adolescente gorducha e ele era um marrão repelente com óculos, no liceu.

Escorregou-lhe o joelho pela segunda vez e um som que ouviu de baixo advertiu-a de que Adam não era o único que estava a ver-lhe a roupa interior. Um olhar rápido confirmou que estava a atrair a atenção de toda a gente que passeava por ali.

Depois, ouviu um clique, seguido de mais uns quantos, e apercebeu-se de que estavam a tirar-lhe fotografias com um telemóvel. Era o que lhe faltava! Certamente, no dia seguinte veria a sua fotografia nas páginas do jornal de Maybridge ou, pior ainda, na Internet, antes da hora de almoço.